domingo, 4 de outubro de 2020

Ixpia O Festival


Há dias venho pensando em escrever sobre Ixpia O Festival, mas faltava tempo, inspiração, sei lá. Hoje o festival acabou depois de quase um mês de lives diárias (com exceção do dia 17/09, que não atraiu os artistas convidados).

Fiquei extremamente envolvida com Ixpia e gostaria de ter contribuído mais para sua divulgação. Ixpia é um festival sui generis. Idealizado pelos músicos Rauni Vilasboas e André Coruja, o festival teve sua primeira edição no final de abril/início de maio passado, no auge da quarentena, provocada pela pandemia do novo coronavírus. Essa primeira edição, mais reduzida em tempo e número de artistas, movimentou os músicos de Mato Grosso e deu um alento às nossas tardes/noites de isolamento social. 

Antes de seguir adiante, é importante ressaltar que o Ixpia reúne músicos estabelecidos em Mato Grosso ou que tenham produzido em algum momento neste estado. Ou seja, o cara pode estar morando em Portugal, nos EUA ou no Canadá, mas tem um vínculo forte com Mato Grosso. Isso dá ao festival uma diversidade incrível aliada ao fato de abrigar artistas de múltiplas correntes.

A segunda edição do Ixpia veio mais robusta: cerca de 200 artistas em lives que começaram no dia 7 de setembro e supostamente terminariam neste domingo (4 de outubro). E com mais um detalhe: ele abriu a programação para outros tipos de artes (visuais, teatro, poesia, etc) e também trouxe entrevistas de executivos e outras pessoas ligadas ao cenário artístico. 

Se por um lado isso permitiu que mais pessoas participassem do Ixpia, por outro, na minha opinião, exigiu do público um tour de force para acompanhar todas as apresentações. Ressalta-se também o fato de que, embora a pandemia ainda esteja vigente, muitas pessoas tiveram que retomar suas atividades profissionais de forma presencial ou online, o que reduziu a disponibilidade geral para estar presente nas lives.

A ideia do festival é fazer com que os artistas atraiam público para suas lives e motivem seus seguidores a assistir a outras apresentações. Ou seja, é um trabalho coletivo em que uns e outros se apoiam e é curioso como a gente passa a se sentir próxima de pessoas que não conhecia antes. Nós ampliamos o nosso universo cultural e nos damos conta de quantas pessoas talentosas atuam em Mato Grosso ou fora daqui, mantendo o vínculo com o estado onde nasceram ou moraram por algum tempo.

Isso é muito significativo já que vivemos num estado que continua sendo visto de uma forma distorcida pela galera de outras regiões brasileiras. Quando vim morar em Mato Grosso no final dos anos 80, retornando à minha terra natal, meus colegas do Jornal do Brasil no Rio de Janeiro chegavam a procurar no mapa a cidade onde fui morar (Cáceres) e tinha um amigo que fazia graça dizendo que eu ia surfar com jacarés. 

Mesmo que hoje as pessoas não imaginem mais ver onças ou índios no meio das ruas da capital de Mato Grosso, persiste um certo descaso - e  preconceito - em relação à arte produzida no interior do Brasil. Muita gente acha que aqui só tem sertanejo, porém o Ixpia mostrou que há muitos músicos compondo e trabalhando com outros ritmos e tendências (rock, rap, blues, jazz, MPB, música internacional, música instrumental, erudita, entre tantos outros).

Embora o festival tenha aberto espaço para intérpretes, o que prevaleceu foi a música autoral, que é sempre um desafio para quem ouve pela primeira vez. 

Além disso, o mais incrível é o fato de todos terem trabalhado de forma voluntária. Não se ganha dinheiro no Ixpia. Porém, duas pessoas em especial trabalharam muito para que tudo acontecesse a contento: Rauni Vilasboas (de Cáceres) e André Coruja (de Belém). É difícil mensurar o trabalho deles, nas etapas pré-festival (convites aos artistas e apresentadores, organização do material de divulgação, estruturação da grade de horários, etc), durante (fazendo com que as lives acontecessem no devido tempo, em meio a problemas inevitáveis de conexão) e pós (na contabilização do público e outros babados). 

A arte do Ixpia é um caso à parte: o trabalho de Silvano Junior e da Nara Silva Lobo foi primoroso. A logo criada por Jhon Douglas é maravilhosa. 

Particularmente, sou muito grata a este festival. Quando André Coruja me convidou para ser uma das apresentadoras, fiquei muito feliz por poder fazer parte de um evento que congrega uma moçada jovem, criativa e cheia de energia. Mas, quando ele me convidou para me apresentar como cantora, tremi nas bases, juro. Num primeiro momento, achei a ideia louca, sem chance de realização. Pedi um tempo para pensar e, após um breve papo com Jefferson Neves, meu "maestro soberano", amigo e parceiro no show "Simples assim" realizado pouco antes do início da pandemia, decidi encarar mais esse desafio. Foi incrível porque tudo isso - o festival, o convite para participar - aconteceu num momento de tristeza após a decisão de minha filha caçula de trocar de emprego, mudando-se de Mato Grosso para Goiás. Embora eu tivesse apoiado sua decisão, fiquei extremamente triste de perder a possibilidade de encontrá-la com uma certa regularidade como aconteceu nos últimos anos.

Acabei misturando uma história pessoal com o que deveria ser uma resenha sobre o Ixpia O Festival. Mas o Ixpia tem isso: a capacidade de despertar o melhor da gente, novos afetos, novos talentos, novas reflexões e possibilidades.

Que venha a terceira edição do Ixpia O Festival!!! 

PS. Depois de ter feito um texto falando sobre o encerramento da segunda edição do Ixpia, fui surpreendida com a notícia de que nesta segunda-feira (5 de outubro) haverá uma programação extra do festival. O Ixpia é mesmo cheio de surpresas!


8 comentários:

Anônimo disse...

Sim, Martha. Nossas histórias se misturam. Fomos tocados!Foi lindo! Seu registro também!

Unknown disse...

Marta, lindo texto. Diz de forma sucinta, tudo o que penso também. O legal de misturar o festival com o sentimento pessoal é isso: empatia, amei! Obrigada! 😘🌱

Martha disse...

Obrigada pelos comentários! Um deles está identificado, mas o outro não, infelizmente.

O Meio do Mundo disse...

Que bom, Martha! Fico feliz pelo que disseste e por como o festival te atravessou. É para mexer com isso que mexeu.
Sejamos felizes,
André

Martha disse...

Esqueci de ressaltar o mandamento do Ixpia: Sejam felizes!

Unknown disse...

Amei 🌷

Vera Capilé disse...

Pois é Martha, tivemos um ajuntamento de talentos, arte de toda cor, sons os mais variados, que deu nisso tudo que vc colocou com competência e beleza!
Parabéns minha querida! Sempre!!!!!

Martha Rita Baptista disse...

Obrigada, Vera! Você é sempre uma presença muito importante na minha vida!