segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Jojo Rabbit - um filme muito atual


Vou falar hoje sobre um dos menos badalados filmes indicados para o Oscar 2020, que acabou ganhando uma estatueta na categoria Melhor roteiro adaptado.
Trata-se de "Jojo Rabbit", baseado no livro "O céu que nos oprime" de Christine Leunens. Quando vi o nome do filme na programação do Cinemark achei que era dirigido ao público infantil. Por sorte, vi o trailler quando fui assistir a "1917" e "Parasita" (dois filmaços) e coloquei "Jojo Rabbit" no meu radar.
O filme é surpreendente, comovente, engraçado, triste. A história se passa no final da 2ª Guerra Mundial e traz o tema sob o prisma de pessoas comuns, quase ingênuas, como o pequeno Jojo, de pouco mais de 10 anos.
Jojo (interpretado maravilhosamente por Roman Griffin Davis) é um menino solitário, que vive com a mãe (Scarlett Johansson, indicada ao Oscar como Melhor atriz coadjuvante por esse papel) numa pequena cidade alemã. Medroso, ele se esforça para participar das atividades da Juventude Hitlerista, onde todos aprendem a arte da guerra e devem demonstrar sua fidelidade aos ideais nazistas. 
É nessa etapa do filme que acontece uma emblemática queima de livros.
Mas as coisas não saem bem para Jojo, que acaba tendo que deixar o grupo e passa a executar tarefas consideradas de menor importância. 
Jojo tem em Adolf - o próprio - um amigo imaginário, com que discute seus problemas e temores. Interpretado pelo próprio diretor do filme, o ator e comediante neozelandês Taika Waititi, Adolf é hilário em vários momentos e duro em outros, mas sempre é fruto da imaginação de Jojo.
A dinâmica do filme muda com a entrada em cena de uma nova personagem: a menina judia que se esconde no sótão da casa de Jojo. Ela colocará em xeque todos os preconceitos e crenças do aprendiz de nazista Jojo. 
Não contarei mais sobre o filme, que ensina muito sobre o mundo atual. Da mesma maneira como os judeus não são "os monstros" imaginados por Jojo, há "nazistas" que também não são monstros e sim crianças (e mesmo adultos como a mãe do protagonista) forçados a seguir (ou fingir que seguem) uma corrente, induzidos a adotar uma determinada ideologia sob o risco de serem hostilizados pela maioria.
O filme "brinca" com conceitos sérios e, por isso, até recebeu críticas severas em alguns países, mas, na minha opinião, ele comove o público ao mostrar a humanidade que existe por trás de cada pessoa que segue uma ideologia imposta pelo poder dominante, e também a brutalidade da guerra, que divide famílias, mata e machuca pessoas de todos os lados.
Vivemos no Brasil momentos difíceis, onde às vezes perdemos a cabeça, ficamos com raiva e nos afastamos de pessoas que parecem não compreender a nossa verdade, as intenções maléficas de um grupo que engendrou um golpe que acabou desembocando na eleição de um candidato que não poderia ter sido pior para nosso país.
"Jojo Rabbit", que parecia um filme de criança, ensina a importância da tolerância, da poesia, da arte, da cultura, num mundo que insiste em decidir o destino de uma nação na base da truculência, da força e da ignorância. 



2 comentários:

Superações disse...

Oi Marthiha. Ontem me surpreendi quando minha analista disse que adorou esse filme, que eu detestei, Agora, você. Não tenho argumentos pra dizer o por quê detestei, mas pra mim isso aconteceu desde o início do filme, que me irritou profundamente. Lendo seu texto e ouvindo minha analista, posso entender como esse filme pode ser apreciado.










JULIANA ALBERNAZ disse...

Filme sensível, delicado e ao mesmo tempo forte...
Onde estamos todos aqui para ensinar e aprender.(Os dois lados)
E emoção pura.