sexta-feira, 25 de março de 2011

Sabedoria da floresta

Não consigo me esquecer do povo da floresta que conheci às margens do rio Guariba, em Aripuanã.
Agora mesmo fui resolver umas coisas aqui perto de casa e caminhei pensando no fim de semana surreal que passei por lá.
Confesso que eu não queria ter ido porque sabia que as condições da estrada estavam horríveis e olha que eu nem sabia que seria atacada por piuns. Mas fico feliz que eu tenha ido por força do trabalho para a Energética Águas da Pedra.
Mas o que eu contar aqui é que o pessoal de lá, mesmo as mulheres, quebram com os dentes a castanha que eu não conseguiria quebrar nem com um martelinho. Quando chegamos à primeira colocação, como eles chamam os lugares onde estão instaladas as casas e roças dos ribeirinhos, por volta de 14h, estávamos morrendo de fome e a primeira castanha que comi me foi dada por Adriana Santos de Freitas, professora da Escola Trilha do Saber da Comunidade Serra Azul, que a quebrou com os dentes. Estava uma delícia!
Da esq. para dir., Adriana, a filha Tamires, a cunhada Cleonice, e Valquíria (mãe de Adriana e parteira) 
Ao longo da viagem de barco até a Comunidade São Lourenço, que durou cerca duas horas, comi muitas castanhas, que foram quebradas com uma espécie de martelinho por Gi, editor do documentário que está sendo feito na região.
As castanhas, mais um montão de farinha de puba (ou farinha d'água) que alguém ganhou dos ribeirinhos, me ajudaram a matar a fome para esperar a janta servida na São Lourenço: churrasco com carne trazida da cidade, macarronada (com ingredientes que trouxemos) e peixe ensopado da região, que comi com medo por causa das espinhas.
Hoje, conversando por telefone com a ecóloga, artista plástica e educadora ambiental Maria Betânia Figueiredo, que fez um trabalho bacana em Aripuanã, como consultora da oscip GAEPAC - PRÓYBY, falamos sobre a alegria desse povo da Resex, que dispõe de tão pouco conforto e vive longe das cidades. Perguntei a ela, que passou mais tempo com os ribeirinhos, a que abribui essa alegria.
"A maior felicidade deles é a liberdade" - respondeu.
Ela mencionou outro aspecto que me saltou aos olhos: a união deles. No pouco tempo que fiquei lá fiquei impressionada, por exemplo, como todos (homens e mulheres) se dividem na tarefa de cuidar dos bebês (duas gêmeas, cuja mãe já está grávida de novo).
É um tema e tanto para qualquer filósofo, sociólogo ou pensador de plantão.


Um comentário:

Dete disse...

Oi Martha,
Fico emocionada ao ler sobre esse povo que parece nao ter dinheiro, mas ter um coracao tao lindo.