sexta-feira, 4 de março de 2011

Lamaçal

Acabei de ver imagens tristes do povo nas estradas que vão para o extremo noroeste de Mato Grosso. A TV Centro América (afiliada da Rede Globo) enviou uma equipe de reportagem (gente valente!) e exibiu reportagens nos telejornais do dia mostrando o drama de quem tem que enfrentar os atoleiros nas estradas estaduais que ligam Juína a Aripuanã e este município a Colniza.
Na verdade, é um eufemismo falar em "atoleiros". As estradas são um mar de lama e crateras praticamente intransitáveis. Para mim, faltou o repórter mostrar o veículo utilizado pela equipe para superar obstáculos que parecem intransponíveis.
Algumas pessoas foram entrevistadas: motoristas de caminhão e ônibus, e passageiros. É estranho que eles falam da situação com uma certa resignação, sem raiva. A reportagem mostrou até uma mulher que passou por uma cirurgia e está viajando num desses ônibus.
Faz duas semanas que a TVCA fala em municípios desabastecidos por conta da dificuldade de tráfego nas estradas. O municipio responsabiliza o governo pelo estado das estradas e o governo ora diz que mandou recursos para o município arrumá-las, ora diz que está mandando patrulhas para resolver o problema.
Mas não aparece um representante do governo, da Secretaria de Infra-estrutura falando alguma coisa decente. O que me aborrece mais é saber que o governo Blairo Maggi e de seu vice Silval Barbosa (seu sucessor) gastou uma fortuna em equipamentos (o tal escândalo do maquinário) a serem entregues aos municípios justamente para conservação das vias públicas.
A história por conta do suposto superfaturamento das máquinas virou uma confusão e, sinceramente, tenho que confessar que nem sei se os equipamentos foram entregues a quem devia. Sei que o dinheiro (superfaturado ou não) não voltou aos cofres públicos.
No final de 2009, percorri essas estradas (pouco antes do período intenso de chuvas) a serviço da revista Produtor Rural. Na época não enfrentamos problemas de atoleiro (só demos uma atoladinha na volta de Colniza), mas dava para imaginar o terror que seria enfrentar aquelas estradas sob chuva.
Conheci pessoas bacanas ao longo da viagem (donos de restaurantes à beira da estrada, assentados, produtores rurais).  É nelas que penso com compaixão especial quando vejo esses municípios praticamente ilhados. Municípios com pouquíssimos recursos em termos de médicos e hospitais em que vários dos entrevistados falaram sobre as dificuldades enfrentadas no períodos das águas. A parcela mais rica da população sempre pode recorrer ao recurso do avião, mas o que dirá da parcela mais pobre, que prevalece nesses municípios?

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