domingo, 9 de novembro de 2014

Domingo no parque




Há alguns anos minha "eterna vizinha" Camila Caetano me falou pela primeira vez sobre a dança circular. No início deste ano, ciente de que ficaria sem minhas filhas por um tempo, estava em busca de novas experiências e, quando a jornalista Liana Menezes me falou da dança, não pensei duas vezes.
Cheguei a frequentar o grupo de dança circular durante um mês numa academia, mas como o dia das aulas coincidia com o do meu curso de técnica vocal, acabei deixando o grupo, porém comecei a participar da roda que acontece um domingo por mês no Parque Mãe Bonifácia.
Confesso que no primeiro domingo fiquei meio envergonhada no início, já que dançamos sob os olhares de dezenas de pessoas que caminham na ampla área de lazer da entrada principal do parque. Mas, aos poucos, fui me esquecendo das pessoas e me entregando ao prazer da dança e da música.
Muita gente ainda desconhece a dança circular. Tenho um  pouco de dificuldade para explicar o que é e nem é meu objetivo aqui, mas posso garantir que é uma experiência mágica!
As pessoas sempre dançaram ao longo da história da humanidade e eu sempre invejei quem conseguia dançar apesar das dores, da tristeza, das incertezas do mundo, da escravidão, do apartheid e todas as formas de opressão.
A dança circular resgata essa capacidade do ser humano de dançar como um ritual, uma forma de comunhão, de união - com sua tribo, a natureza, o mundo, o seu self ... 
As músicas e os ritmos dançados são variados e de várias origens. As coreografias variam também, mas não há passos rebuscados e, tampouco, uma preocupação em se exibir ou dançar certo. 
Em geral, aos domingos, a roda é eclética e não raro abriga pessoas que nunca participaram da dança circular. Sol, nossa mentora, professora, sei lá o quê, explica pacientemente os passos e geralmente termina o "ensaio" dizendo que quando tocar a música tudo se encaixa.
Neste domingo, ela estava especialmente inspirada e até as coreografias que dizia serem simples pareceram mais complicadas. Às vezes a gente trombava com  o companheiro - ambos indo na direção errada ... Porém, tudo ficava divertido, intenso, a ponto de nos esquecermos totalmente de quem passava em volta e estranhava aquelas mulheres malucas (há homens no grupo, mas são sempre minoria, é claro) dançando uma dança maluca.
É uma dança solidária em que quem tem alguma dificuldade especial (como a adolescente deficiente visual, que está sempre sorrindo) é amparada por alguém mais seguro, experiente e paciente. 
É uma dança receptiva em que quem está de fora é bem-vindo, seja de qualquer idade.
É uma dança revigorante, que não cansa e estimula os sentidos do tato, visão e audição, e, nossa capacidade de percepção de espaço, do outro, de si próprio.
Hoje fiquei especialmente tocada porque Sol se lembrou de minha paixão por uma dança celta e nos convidou a executá-la citando meu nome. Uma honra muito grande para mim. É uma dança linda, com uma simbologia fantástica em que buscamos uma água imaginária numa fonte e depois nos banhamos com ela diversas vezes. Quando danço essa música eu me sinto como se estivesse numa montanha ou na clareira de uma floresta, num tempo muito remoto, fazendo alguma dança ritual. É muito comovente e fico louca para fazer essa coreografia novamente.
Em dezembro, não estarei aqui no segundo domingo do mês para reencontrar meus companheiros de roda, mas em janeiro estarei de volta e, se depender de mim, não perderei um só encontro, mesmo que ainda me custe um pouco acordar antes das oito no domingo de manhã. 
Mas vale a pena ... ah, como vale.
Dedico este texto à Liana, que me chamou para a roda, à Sol e as outras meninas responsáveis pelo nosso encontro e a todas as pessoas que atendem ao convite para alimentar a dança circular no Parque Mãe Bonifácia.

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