Há vários dias planejo escrever sobre as eleições para a Presidência. Tenho lido tanto sobre o assunto, conversado bastante e acho até que tudo que eu disser será supérfluo, já que nesse momento a maioria das pessoas já decidiu em quem vai votar – ou em quem não vai votar. Portanto, amigo, minha intenção não é fazer sua cabeça. Só quero expressar minha opinião neste momento tão crucial da nossa frágil democracia.
Eu tinha oito anos
quando aconteceu o golpe militar, em 1964. Minha família foi favorável à
intervenção militar naquele momento e eu não sei dizer exatamente em que
momento e por que logo passei a associar os militares ao medo, ao terror, a
torturas, ao que havia de pior no ser humano. Já adulta, acompanhei como
jornalista alguns momentos da vida política do país em que a repressão policial
se fez presente. Eu vi policiais militares arrebentando com cassetete a cabeça
de parlamentares num ato em defesa da antiga sede da UNE na Praia do Flamengo,
no Rio de Janeiro, e tive muito medo quando me vi em meio a policiais que
atiravam em manifestantes. Como jornalista, acompanhei a visita a presos políticos
e a volta dos anistiados; assisti ao comício das diretas já na Presidente
Vargas. Foram momentos incríveis, que me encheram de esperança. Escutei e
registrei nas páginas da revista Veja o depoimento de um militar reformado que
foi o primeiro a denunciar a farsa criada pelo Exército para mascarar o
assassinato por espancamento do deputado Rubens Paiva, no Quartel da PE, na
Tijuca.
Nos últimos dias tenho sentido muito medo de perder tudo que
conquistamos: a liberdade de expressão, a mobilidade social. É claro que não tenho o país que gostaria,
com segurança pública, saneamento básico, condições básicas de saúda para
todos, mas ainda sim é um país viável.
Tenho me esforçado ao máximo para compreender as razões das
pessoas de quem gosto que votam no candidato do PSL, mas não consigo. Tá, mas
eles também não entendem como uma pessoa “inteligente”, bem informada como eu,
vota no candidato do PT. Desde o primeiro turno, tenho dito que se o segundo
turno fosse entre Alkmin e o 17, votaria no Alkmin. Se fosse Marina, Amoedo,
até o Meirelles, eu votaria #elenão. Nem falo no Ciro porque foi minha escolha
no primeiro turno.
Não voto no Haddad iludida ou acreditando que teremos a
partir de 2019 o Brasil feliz de novo. Acho que, independentemente dos
resultados das urnas neste domingo, enfrentaremos tempos difíceis. O mundo está
complicado. Mas, de alguma forma, tudo que aconteceu me levou a perceber melhor
a realidade, é como se muitas máscaras tivessem caído e eu mesma estivesse
percebendo as minhas máscaras.
Houve um dia que
ficou claro para mim o quanto interessa a algumas pessoas a nossa divisão, que
a gente discuta, brigue, se agrida por causa de política, de futebol, opção
sexual, cor de pele. Então, estou me esforçando para ser tolerante, para tentar
aceitar o outro, compreender seu ponto de vista, mas também quero e espero que
ele aceite o meu.
E por mais que eu me esforce não consigo entender a opção
por um candidato que não apresenta propostas, só destila ódio, muda de opinião
como quem muda de camisa e cuja eleição levaria ao poder pessoas do naipe de um
Alexandre Frota.
Minha opção é pela educação como caminho para a
transformação, pela compaixão, por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil
e Paulinho da Viola (meu quarteto fantástico), pela poesia, mas é também por
saneamento básico, justiça social, oportunidade iguais para todos. E, com
certeza, não é pela violência e pela
tortura como política de estado.
Por isso, amanhã votarei 13 com convicção e esperança de um
país com mais tolerância e harmonia. A corrupção é um mal, mas tenho certeza de
que não nasceu com o PT. Esperávamos mais do partido? Claro. Mas acho mais
possível melhorar o sistema com Haddad do que com o outro candidato, que até
hoje só se beneficiou de tudo que ele diz querer mudar.
5 comentários:
Belíssimo texto em intervenção pertinente. Permito-me acrescentar algo que não encontro em nenhum texto por aí: educação (a básica é responsabilidade das prefeituras e a média dos governos estaduais); ao governo federal cabe, unicamente, o ensino universitário. A segurança pública é da conta dos governos estaduais. A saúde é da responsabilidade das 3 esferas, via SUS, assim: o governo federal, através das verbas disponibilizadas através de seu orçamento, orça os preços (valores a serem repassados ao atendimento final); os governos estaduais também orçam valores a complementar o vindo do governo federal e, finalmente, as prefeituras estabelecem convênios e contratos com os prestadores de serviço e, considerados os valores repassados pelos anteriores, inclui a sua parcela no fechamento das contratações. Portanto, todos os candidatos, sem exceção, mentem para a população sobre esses 3 pilares-desejos: o governo federal não tem nada com o ensino básico e médio, nem com a segurança pública. Acontece que os os municípios gastam o que não tem com bobagem e se negam a cobrar o que lhes é devido pela prestação de serviços (imposto sobre serviços) de seus munícipes e nada fazem em relação ao IPTU, mas, estão sempre a alardear shows e festivais e gastos em viagens estapafúrdias em busca de empresas que irão "gerar" empregos. Já os estaduais, agem da mesma forma, dispensam impostos (ITBI e ICMS), nada fazem para gerar desenvolvimento, mas, também, estão sempre viajando (inclusive ao exterior) em busca da "fada madrinha". Daí, o governo federal é que fica sendo culpado pelas mazelas. Afinal, ser munícipe e estaduano, pelo visto, nada conta para cada um de nós. Abração.
Texto coerente e íntegro!
Falou tudo!
Vamos de 13
Uma ótima e sincera reflexão com ternura parabéns mais uma vez p suas palavras nesse momento!
Belissimo depoimento, Martha! Sua angústia, nossa angústia... Pessoas com o seu carater e sentimentos são as que garantem o amanhã, o sonho, a conquista, a duras penas, de um país melhor para todos.Seja qual for o resultado, a luta continua. Não vamos abrir mão da democracia, das conquistas sociais, das liberdades e garantias individuais...
Agradeço a todos que deixaram suas palavras de alento.
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