Hoje
fui surpreendida com a notícia do fechamento do bar Choros &Serestas – o Chorinho
tantas vezes mencionado neste blog. Não quero falar sobre os
motivos do encerramento das atividades do bar e restaurante que, aliás,
continuará abrindo para almoço durante algum tempo.
Só
quero registrar mais uma vez o meu imenso carinho pelo Chorinho, que já foi
minha segunda casa em Cuiabá. Quando me mudei de Cáceres para a capital
mato-grossense há 13 anos logo identifiquei aquele bar simples e aconchegante
do bairro Jardim Tropical como o “meu lugar” em Cuiabá.
Mal
sabia chegar lá no início. Conheci o Chorinho graças à amiga Manoela que,
durante um tempo, foi minha fiel companheira de samba aos finais das tarde de
sábado. Eu chegava tímida com minha amiga sambista, que dava show na pista de
dança com Elis, dançarino completo. De vez em quando, ele me tirava para um
samba e eu me sentia lisonjeada com a honra de dançar com o grande Elis.
Saravá!
Aos
poucos, fui conhecendo mais pessoas, frequentando o baile das sextas, as noites
de quinta-feira (antes da moçada tomar o Chorinho de assalto) ... De repente, o
sábado ficou apertado para tanta gente que se tomou de amores pelo Chorinho,
por aquele samba democrático, bagunçado que corria ligeiro e animado sob o
comando quase imperceptível do grande Marinho Sete Cordas. Quase ao mesmo
tempo, as quartas-feiras começaram a ficar animadíssimas, compartilhadas por
antigos e jovens apaixonados pelo Chorinho.
O
auge do Chorinho – para mim – foi entre 2006 e 2012, quando comecei a me sentir
íntima da casa. E comecei a cantar. Não me lembro quando foi a primeira vez que
tive coragem de pegar o microfone e cantar “Quem te viu quem te vê”, que acabou
se tornando minha marca registrada. Mas me recordo de um sábado em que admirava
a roda de samba e Marinho fez sinal para eu cantar. Envergonhada, olhei para
trás para me certificar de que o sinal era realmente para mim. Pronto, o “monstro”
estava criado. Nunca mais parei de cantar. Briguei pelo microfone, naquelas
noites em que representantes da velha, média e nova guarda se revezavam para
interpretar seus sambas preferidos.
Era
divertidíssimo! Bebi muito, comi pouco, sambei pra caramba ... Fiz muitos
amigos, tive paqueras e teria muitas histórias divertidas para contar sobre o
Chorinho que vivi.
Com
a mudança forçada por conta de denúncia feita à Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, que não demonstrou qualquer boa vontade com a casa, o Chorinho
começou uma nova etapa de sua história. Alguns velhos frequentadores deixaram
de ir por um tempo ao novo Chorinho, instalado no bairro Quilombo (a alguns
metros da Praça do Choppão). Os universitários que iam em busca de cerveja e
comida baratas também foram se afastando. Novas pessoas chegaram.
Confesso
que fiquei um pouco arredia no início diante de filas na porta e de um clima
diferente do boteco do Jardim Tropical. Mas minha resistência foi vencida por
Marinho que me disse: “Somos nós. É a música de sempre”. Ele tinha razão, em
parte. Aos poucos, fui voltando a frequentar o “novo” Chorinho. Continuei
dançando, cantando cada vez mais e fiquei muito feliz de ter sido convidada
para participar de alguns eventos especiais, como o show em homenagem a
Paulinho da Viola e Lupicínio Rodrigues, ao lado de cantoras veteranas e
novatas.
E
por falar em Paulinho, que estou ouvindo enquanto escrevo estas linhas, foi lá
no Chorinho que aprendi a cantar “Onde a dor não tem razão”, que se tornou um
dos meus sambas preferidos. Também foi lá que aprendi a cantar “Desde que o
samba é samba”, de Caetano Veloso.
Conheci
músicos que hoje fazem sucesso no cenário mato-grossense e nacional, como Paulo
Monarco, Luciana Bonfim, Ana Rafaela (quando era apenas uma menina que
impressionava por sua maturidade e talento musical), Lorena Ly, Joelson
Conceição, Henrique Maluf e tantos outros.
Lamento
muito que o Chorinho esteja fechando suas portas e desejo que o casal Marinho e
Fátima encontre novos caminhos. Só tenho que agradecer o privilégio de ter
curtido os bons tempos do Chorinho, ainda que não seja da chamada Velha Guarda
da casa. Espero que os amigos feitos nesse tempo não se esqueçam de mim e não
pretendo esquecê-los. Estou fechando uma página da minha vida em Cuiabá ... Com
tristeza, mas também com muita gratidão!
8 comentários:
Emocionante querida! Um texto digno de sua sensibilidade. Grato por compartilhar. abraço, Claudio
Grata pelo comentário, Claudio! Senti que devia compartilhar um pouco dos meus sentimentos em relação ao Chorinho, um lugar tão amado! Abraços
Adorei amiga. Bela homenagem. Vamos ter muita lembrança boa pra recordar.
Adorei amiga. Bela homenagem. Vamos ter muita lembrança boa pra recordar.
Martha, você sempre com uma sensibilidade impressionante ao escrever! Lindas palavras!
Obrigada, Maria Helena! Obrigada, Marcelo!
Martha, eu que não moro em Cuiabá, fiquei muito triste ao ler o seu post. Imagino o sentimento de perda de todos os frequentadores desse local tão musical, alegre e aconchegante. Com certeza, Cuiabá perderá um ponto importantíssimo de boa música e lazer.
Para variar, adorei o seu texto. Lindo!
Martha, eu que não moro em Cuiabá, fiquei muito triste ao ler o seu post. Imagino o sentimento de perda de todos os frequentadores desse local tão musical, alegre e aconchegante. Com certeza, Cuiabá perderá um ponto importantíssimo de boa música e lazer.
Para variar, adorei o seu texto. Lindo!
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