Há pouco mais de um ano adotei Juca. Hoje ele já é bem conhecido entre meus amigos e familiares, e mesmo quem não o conhece presencialmente acompanha suas aventuras e desventuras.
Ter um animal em casa é uma experiência incrível e confesso que relutei muito em criar um pet em apartamento.
Quando eu era criança e morava no Rio de Janeiro com minha mãe e minhas irmãs num apartamento no Flamengo, sonhava muito em ter um cachorro. Perturbei tanto minha mãe que ela até concordou com a ideia, mas tive um momento de lucidez e desisti. Meu ideal de cachorro nunca foi um cãozinho pequeno, de apartamento. Eu sonhava com um cachorro maior, estabanado, como aqueles que a gente vê nos filmes.
Em março de 2021 ainda estávamos em pandemia quando decidi adotar um bichinho. Num domingo, após um ensaio maravilhoso do musical "O Poder da Floresta" com o Coro Experimental MT e membros da Igreja Mestre Irineu, voltei para casa inspirada e entrei em contato com Ângela Baldissera, responsável pelo Abrigo Melhor Amigo. Quando ela me perguntou se eu queria ir ao Abrigo para escolher, respondi: não, quero um malhadinho que vi numa foto postada no Instagram. Ela me disse que ele se chamava Toco e era o último de sua ninhada que tinha ficado para trás.
No dia seguinte, o filhote, que rebatizei como Juca, estava na minha casa e aí a gente foi se conhecendo, se curtindo e vivendo várias histórias já narradas aqui e/ou nas redes sociais.
Hoje, vendo as postagens de grupos relacionados a animais em Cuiabá (de repente, minha timeline só tem notícias sobre cachorros perdidos, achados, pedidos de ajuda para comprar ração, medicamentos, etc), tenho vontade de ficar com todos aqueles animaizinhos com cara de carentes. Eles são tão lindos! Ao mesmo tempo, eu me dou conta de como é difícil manter um animal, principalmente quando você mora sozinha.
A começar pela "obrigação" de passear com ele, de manhã e no final da tarde. É gostoso? Sim, mas não é todo dia que você está a fim, está disponível. Tem dia que você está com sono, que está chovendo, está ventando ou quente demais. E essa obrigação é diária, não tem feriado, nem final de semana. Ah, mas tem os hotéis onde você pode deixar o pet para descansar (você e ele). Sim, mas as diárias são caras (aproximadamente R$ 50).
E aí entramos num outro ponto delicado: cuidar de um pet custa caro. Não são só vacinas e os gastos básicos iniciais (cama, bebedouro, comedouro, peitoral, guia, etc). É preciso dar vermífugo, carrapaticida com uma periodicidade bem enxuta. E mesmo assim você corre o risco de que seu animal pegue uma doença transmitida por carrapatos, já que Cuiabá está infestada desses bichinhos cuja única utilidade parece ser atrapalhar a nossa vida.
E ainda tem um arsenal de supérfluos irresistíveis: brinquedos de pelúcia, bolinhas, bifinhos, sticks, patês, biscoitos, entre outros.
De repente, você se toca que gasta mais com seu bichinho de estimação do que com si própria. Eu me dei conta disso no dia que comprei uma pasta de dente pro Juca mais cara do que qualquer uma que já comprei para mim.
Mas aí já é tarde demais: você está irremediavelmente apaixonada por ele e a hipótese de perdê-lo enche seus olhos de lágrimas.
O objetivo desta postagem não é desestimular a adoção de bichinhos. Eles são maravilhosos, adoráveis e nos ensinam muito. O que quero é alertar às pessoas sobre o que significa o ato da adoção. Acredito que muita gente adota, depois devolve no primeiro obstáculo e não cumpre os requisitos básicos para manter o seu animalzinho feliz e saudável.
Nesses quase 13 meses de convivência com Juca, aprendi muito sobre meus limites, minhas imperfeições e também sobre minha capacidade de amar. Adotar tem a parte boa, de rir com as travessuras de seu cão e até fazer amizades, mas é sobretudo um ato de amor, de renúncia e um compromisso até maior do que o que você estabelece com outro ser humano.
O(a) amigo (a), o(a) namorado (a), o parente, pode até machucar seu coração (e vice-versa), mas sempre haverá a possibilidade de um diálogo, uma explicação para o fim do relacionamento, a separação, a falta de disponibilidade para uma conversa. No caso do bicho de estimação, o laço é para sempre e, por isso, a minha responsabilidade como tutora é imensa. E às vezes bem pesada. Mesmo assim quero ficar bem velhinha ao lado de Juca.
Juca com dois colares elisabetanos por recomendação de seu médico veterinário |