domingo, 5 de fevereiro de 2017

Diferenças entre Brasil e Austrália

Já falei sobre árvores, parques, a beleza e a segurança de Brisbane e outras pequenas cidades da Austrália que visitei há menos de um mês. Falta falar sobre pessoas.
A "City" em Brisbane
Gold Coast

Mas que pessoas? Australianos? Conheci poucos australianos. A Austrália é provavelmente um dos países que mais acolhe imigrantes e não é difícil esbarrar em brasileiros por lá.
A maioria são jovens na faixa de 25 a 35 anos. Embora muitos tenham visto de estudante, fica claro que a maior parte desses brasileiros (pelo menos, o povo com quem conversei) vai para lá sabendo que é possível conciliar o curso de inglês (ou qualquer outro) com trabalho. 
Alguns voltam para o Brasil depois de um tempo porque não se habituaram à nova vida, onde é preciso cuidar de casa, preparar sua comida, lavar roupa, estudar e trabalhar; ou porque sentiram muitas saudades da família ou porque têm certeza de que terão trabalho garantido no país natal (é o caso, por exemplo, de gente que tem pais ricos ou com negócio próprio). Mas muitos batalham para ficar por lá porque simplesmente se apaixonam pela cidade onde vivem ou pelo estilo de vida que a Austrália oferece. 
Uma das coisas que mais encanta na Austrália é que não existe um fosso social tão grande como no Brasil. Aqui trabalhadores braçais moram na periferia, enfrentam horas em ônibus ou trens lotados. Lá é possível para um brasileiro que trabalha como lavador de pratos, faxineiro, camareiro, entregador de pizza, garçom ou descarregador de containers compartilhar um apê legal com outros imigrantes, perto da praia ou num bairro bem gostoso. Dependendo do local onde trabalha, ele pode ir a pé ou de bike para o serviço.
Mas existe muitos outros imigrantes na Austrália: indianos, árabes, chineses, colombianos, argentinos, africanos, asiáticos e europeus de origens diversas.
Aparentemente os australianos lidam bem com isso. Por enquanto, parece não faltar trabalho para todos. Alguém do círculo de amigos de minha filha Diana comentou que talvez a realidade será outra daqui a uns 10 anos. É possível, mas por enquanto todos parecem conviver bem, embora os australianos sejam bem na deles. Minha filha está lá há quase três anos e não tem amigos australianos.
Fiquei amiga de um australiano enquanto estava lá e ele me pareceu um cara bem legal, mas, ao mesmo tempo, na dele. Tranquilo. A sensação que tenho é que realmente ainda há lugar ao sol (e que sol!) para todos, desde que se sigam as regras de lá. 
Não se pode ingerir bebida alcoólica nas ruas, esse tipo de bebida não é vendido em supermercados e sim apenas em lojas especializadas, não são todos os restaurantes que vendem bebidas alcoólicas, a tolerância quanto a pessoas alcoolizadas ao volante é zero. Isso não impede que os australianos bebam bastante, mas há regras a serem seguidas e os policiais estão por perto para agir quando elas são quebradas.
Surfers Paradise - a "Copacabana" ou "Ipanema" de Gold Coast
É possível se atravessar as ruas (quando o sinal está aberto para os pedestres) sem medo de ser atropelado, mas, segundo minha filha, os pedestres também podem ser multados (principalmente, na City) se transgredirem as leis. Quase não ouvi buzinas em Brisbane e nas estradas onde andamos e não vi um acidente de trânsito. Tampouco, buracos nas ruas.
Há multas pesadas para quem excede o limite de velocidade ou estaciona sem pagar, mas a diferença é que lá parece que os recursos arrecadados são realmente investidos em benfeitorias e infraestrutura. 
De volta ao meu país e à cidade onde moro (Cuiabá), a gente não pode deixar de se indagar: por que aqui tem que ser tão diferente? Será que o problema é cultural ou individual? Uma coisa é certa: temo não viver o suficiente para ver uma sociedade mais justa, mais segura e menos desigual no Brasil. Infelizmente.
Enquanto isso, veremos jovens graduados, operários qualificados trocando seu país para lavar pratos, descarregar containers, entregar pizzas, arrumar camas, limpar banhos e escritórios em países como a Austrália.