quinta-feira, 23 de junho de 2016

Movidos pela paixão




Foto Jorge Moura

Cerca de 80 músicos, com idade a partir de 11 anos, levaram ao delírio o público do Teatro do Cerrado - Zulmira Canavarros, na noite de quarta-feira (22 de junho). A Orquestra Sinfônica CirandaMundo apresentou um repertório variado no concerto aberto com uma peça do alemão Ludwig van Beethoven ("Leonora, Abertura nº 3 – Op. 72) e encerrado com uma verdadeira apoteose, que incluiu a participação do público num medley de canções do grupo The Beatles.

A versatilidade não é a única marca registrada desse grupo, que reúne músicos profissionais e alunos do Instituto Ciranda Música e Cidadania, entidade criada há 12 anos com o objetivo de promover o ensino gratuito de música e semear orquestras por Mato Grosso. A energia e o entusiasmo dos músicos, sob a regência do maestro Murilo Alves, também são características do grupo, que atraem profissionais reconhecidos no estado como o contrabaixista Jhon Stuart e músicos estrangeiros, como o violonista Alex Carney.

De origem norte-americana, Carney mora na Califórnia, mas está passando uma temporada em Mato Grosso como professor e músico do Instituto Ciranda e foi um dos solistas da peça "Dia do seu Domingos" – um arranjo feito especialmente para a Orquestra CirandaMundo por Kleberson Calanca, em homenagem ao músico Dominguinhos. O repertório do concerto de junho incluiu outro arranjo de Calanca ("Beatles again"), uma peça do compositor mexicano Arturo Márquez ("Conga del fuego nuevo") e uma composição do venezuelano Daniel Hurtado: "Concierto para Quarteto de Clarinetes y Orquestra"). Esta última peça teve como solistas o Quarteto Paralelo, formado por dois músicos convidados – o paulista Bruno Avoglia e a cubana Patricia Pérez – e dois músicos da "casa": a rondopolitana Jessica Gubert e o cuiabano Niger Ortega.

"Para nós, do Instituto Ciranda Música e Cidadania, é motivo de orgulho ver a evolução de músicos que iniciaram sua formação conosco e hoje estão aptos a se apresentar em qualquer palco do Brasil e do exterior", orgulha-se Alves, que destaca ainda a jovem spalla Lindi Ellis.  Lindi cativou o público ao se levantar e deixar o violino de lado alguns minutos para entoar os versos iniciais de "Yesterday" – um clássico dos Beatles. Em seguida, outros músicos mostraram suas vozes na mesma canção, que terminou com todos – músicos, maestro e plateia – cantando em uníssono.

O trabalho do Ciranda é realizado em vários municípios do interior de Mato Grosso, como Campo Verde e Rondonópolis, com o apoio de prefeituras municipais como parceiros educacionais. O trabalho de formação de músicos e orquestras também ocorre em outras localidades do interior de Mato Grosso e só é possível graças a diversos patrocinadores e apoiadores. Cerca de 1.500 alunos, entre crianças e adolescentes, são beneficiados.

A próxima apresentação do Instituto Ciranda acontecerá em agosto próximo (dia 25), no Espaço CDL, em Cuiabá, com o Grupo CirandaDrums. Em setembro, a Orquestra Sinfônica CirandaMundo voltará a se apresentar no Teatro do Cerrado – Zulmira Canavarros, com um repertório que mescla o clássico e o popular. 
Foto Jorge Moura

sábado, 11 de junho de 2016

Violas em concerto



Não poderia deixar de registrar a última noite do projeto Sonora Brasil 2016 em Cuiabá. Violas em concerto era a proposta do espetáculo que trouxe a Mato Grosso dois músicos singulares: Fernando Deghi (PR) e Marcus Ferrer (RJ). 
Eu poderia falar horas sobre a apresentação, mas vou me ater ao essencial: foi maravilhoso.  Esqueça o formalismo da música de concerto. Os dois músicos, a seu jeito, eram extremamente falantes e convidaram a plateia a fazer perguntas: eu não resisti.
O concerto acabou sendo um bate-papo entremeado com belíssimas apresentações de um repertório que teve lugar para Guerra Peixe, Gaspar Sanz (a belíssima "Canários") e peças de compositores contemporâneos como Roberto Victorio de Mato Grosso.
Infelizmente não fiz uma foto dos músicos no palco, confiando nas fotos que encontraria na net. Queria mostrar a viola-harpa linda, executada por Deghi. O instrumento é um dos mais bonitos que já vi na vida e dedilhado pelo músico parecia uma coisa de outro mundo.
Os dois contaram que não se conheciam antes de participar do projeto Sonora Brasil. "Foi um casamento arranjado", brincou Deghi. E não é que deu certo? Dois músicos com história de vida diferentes, até onde fiquei sabendo - Ferrer é professor  da Escola de Música da UFRJ e doutor em Teoria e Prática da Interpretação; Deghi não tem uma vida acadêmica, embora se dedique à pesquisa da viola. 
Em comum, uma competência técnica absurda, uma sensibilidade musical impressionante e a paixão pela viola. 
"A gente não escolhe a viola. Ela que nos escolhe" - afirmou Deghi.
Meu saldo da semana: minha paixão pela viola só aumentou (pena que ela não me escolheu!), seis CDs (sendo três ganhos, dois de presente antecipado pelo meu aniversário, dados por minha irmã Jane, e um ganho do próprio Deghi) e uma vontade de conhecer, ouvir e divulgar a viola cada vez mais.
Ferrer contou que ainda resiste um preconceito grande na academia em relação à viola - segundo ele, um instrumento mais antigo que o violão no Brasil. O professor Adelmo Arcoverde, que se apresentou na quinta-feira, disse que há até pouco tempo seus alunos iam para as aulas na universidade com a viola escondida na caixa do violão.
Que louco, né? Tem preconceito até na arte.
 PS: Destaque para a apresentação do poema "Raivas gostosas" de Domingos Caldas Barbosa - filho de um comerciante português e uma escrava angolada que viveu no Brasil no século XVIII.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Violas do Nordeste



Mais uma noite de viagem e deleite musical através do som da viola, no teatro do Sesc Arsenal, em Cuiabá.  Esta noite foi embalada por violas e violeiros do Nordeste: Cássio Nobre, Adelmo Arcoverde e Raulino Silva - três vertentes bem diferentes.
Raulino, muito falante, apresentou a viola repentista, dando uma aula sobre várias formas do cantar repentista. Versos decassílabos, galopes à beira mar, martelo miudinho, martelo agalopado, gemedeira, sextilhas - tanta informação que fica até difícil guardar tudo. Uma pequena amostra da riqueza do repente, com direito a um improviso sobre tema dado por alguém da plateia: o Japonês da Federal que está vendo o sol nascer quadrado.
Adelmo, professor de viola e violão, trouxe uma viola mais erudita, mas não menos brasileira. Homenageou Heraldo do Monte, Virgulino Lampião e lindamente apresentou improvisos e composições próprias com seu jeito tímido.
O jovem Cássio Nobre, maranhense radicado na Bahia, trouxe a magia das rodas de samba de viola, o som limpo da viola machete do Recôncavo Baiano. Ah quem me dera poder conhecer de perto uma roda dessas!
Mais uma noite rica, com público entusiasmado e quase cativo. Reencontrei algumas pessoas que também estavam na plateia de quarta-feira e que provavelmente voltarão na sexta-feira para ver a última apresentação desta temporada do projeto Sonora Brasil.
Por garantia, já comprei um litro de leite a mais para garantir meu ingresso amanhã. Bom demais!

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Violas em trânsito


Estou no céu. Acabei de assistir a um show cuja despretensão é do tamanho de sua grandiosidade: dos violeiros Paulo Freire e Levi Ramiro, no projeto Sonora Brasil, no teatro do Sesc Arsenal.
Sou alucinada pelo som da viola e, quando vi que o Sonora Brasil desta temporada seria focado nesse instrumento tão brasileiro, decidi que deveria me esforçar para assistir a quantas apresentações pudesse.
Hoje, foi o segundo dia. Ontem teve Violas Singulares, com a participação de Sidnei Duarte (de Mato Grosso), amanhã tem Violas no Nordeste e na sexta Violas em Concerto, sempre às 20h. O ingresso é um 1 litro de leite Longa Vida.
O som da viola tem o poder de me transportar para um lugar bom. Não sei que lugar é esse, mas sei que é bom. Me dá vontade de sorrir, de chorar, me faz sentir gente.  A gente até acredita que o Brasil é um país de pessoas boas, de bom coração e bem intencionadas.
Os dois violeiros de hoje, além de serem mestres em seus instrumentos, eram grandes contadores de causos. Eu me diverti muito com as suas brincadeiras. 
O público era bem seleto e parecia estar no clima da apresentação. Bonito demais!
Quando acabou, os músicos convidaram o público para conhecer seus instrumentos e exibiram seus CDs. Juro que eu não ia comprar, mas não resisti a um dedo de prosa e, no final, trouxe para casa um CD do Levi ("Trilha dos Coroados") e um CD do Paulo ("Pórva"). Ouvirei com prazer na tentativa de estender o prazer vivenciado durante o show.
Amanhã, os dois músicos seguem para Rondonópolis onde se apresentarão na sexta-feira, no Sesc local. Se eu morasse em Rondonópolis, assistiria de novo.