segunda-feira, 30 de abril de 2012

Mudança de tempo

É impressionante como a temperatura lá fora muda os planos da gente. Meu plano hoje era acordar cedo, ir à academia nadar e depois me dedicar ao meu frila (para a revista Bio). À tarde, meu destino seria (e será) a sede do Grupo André Maggi, onde estou desenvolvendo um trabalho como frila fixo.
O tempo virou no final da tarde de ontem e com isso parte dos planos foi por água baixo (sem trocadilho). Mesmo assim, acordei cedo e estou trabalhando no escritório, enquanto minha filha mais velha faz trabalho com duas colegas na sala. Quem tem ou teve filhos que fazem Arquitetura, sabe como eles (estudantes de Arquitetura) são espaçosos. Precisam de todo espaço disponível (chão, mesa) para fazer seus trabalhos, principalmente, se for uma maquete como hoje.
E por falar em escritório, ontem assisti a dois filmes muito interesssantes em DVD. O primeiro foi "Cópia fiel", do cineasta iraniano Abbas Kiarostami, O filme é de 2010 e, sinceramente, conheço muito pouco sobre cinema iraniano, morando em Cuiabá. O que me atraiu no filme foi a atriz, Juliette Binoche, e o título. Depois descobri que o diretor é super badalado, que o filme (de 2010) foi indicado à Palma de Ouro e que ela, Juliette, ganhou o prêmio de melhor atriz. Confesso que assisti ao filme duas vezes para melhor absorvê-lo (e tentar entendê-lo), mas adorei: a história louca, os diálogos entre a personagem de Juliette e o escritor e filósofo inglês (não conhecia o ator, William Shimell,que é muito bonito), ora em inglês, ora em francês; a fotografia, a paisagem da Toscana (um dia ainda vou lá).

Em seguida, assisti a um filme de Alain Resnais, de 2007. Não gostei do título em português, por isso vou ficar com o título em francês, "Coeurs", bem mais poético. Adorei o filme de cara! Há um tempo assisti a outro filme do diretor ("Ervas daninhas"), que achei muito maluco. Este não! É delicado, tem ótimas interpretações, personagens muito interessantes e a direção do veterano cineasta, que já mostrou muito serviço ao longo da carreira.

A ótima Laura Morante, cuja intepretação de Nicole (a personagem misteriosa e dividida) lhe valeu

Embalada pelos dois filmes (como é bom assistir a filmes que fogem da estética norte-americana), fui dormir, com o desejo (ainda não realizado) de uma vida mais intensa e menos limitada. Minhas últimas leituras ("On the road") e filmes ativam o meu desejo de mudança. Para aonde? Como?
Ah, e o que o escritório tem a ver com tudo isso?
Um dos personagens do segundo filme é um cara que vive enchendo a cara num bar e às turras com a noiva que procura um apartamento maior. O filme gira em torno de poucos personagens que têm suas vidas entrelaçadas. O apartamento precisa ter três quartos porque o noivo, que está desempregado e não move um músculo para procurar emprego, quer ter um escritório como seu pai. A noiva pergunta para quê ele quer um escritório e o noivo dá umas respostas meio loucas e evasivas.
Bom, eu tenho um escritório, mas não gosto muito de ficar nele porque é muito quente e bate sol à tarde. Mas, hoje, como está fresco, meu escritório está delicioso.

Dan (Lambert Wilson), o noivo que quer o escritório, com sua nova conquista Gaëlle (Isabelle Carré) 


sábado, 28 de abril de 2012

Coisas simples

Você certamente já ouviu alguém dizer: nada como um dia depois do outro. Pois é. Ontem, no final da tarde, eu estava muito triste sem um motivo concreto. Cheguei em casa, minha filha me deu o recado de que minha amiga não poderia sair comigo e eu fiquei triste por um lado e aliviada por outro, já que estava meio desanimada.
Cheguei a enviar mensagem para outra amiga para ver se queria ir ao Chorinho, mas não deu certo e sosseguei. Acabei ligando para uma de minhas irmãs, torcendo para que estivesse em casa. Ela estava e batemos um longo e gostoso papo, falando de tudo e de todos, inclusive, de nós (mais de mim do que dela).
Assisti ao final do "Globo Repórter" (muito legal, estou apaixonada pelo tema reciclagem) e depois tentei ver "Casseta e Planeta vai fundo", mas achei muito chato. Resolvi me deitar e acabei de ler "On the road" de Jack Kerouac. Adorei!
Tivemos muitos sonhos loucos durante a noite (talvez por influência das loucuras dos personagens do livro). Eu chegava numa casa onde estavam alguns amigos e me sentia como um peixe fora d´água, porque eles eram muito loucos, muito livres.
Fiz coisas desimportantes pela manhã, almocei com minha filha mais velha, passei no supermercado para as comprinhas de sempre, e me senti estranhamente feliz. Ufa, que bom!
Já falei tanto, mas eu quero mesmo é mais uma vez agradecer a família maravilhosa que tenho: irmãos, cunhados, sobrinhos, sobrinhos netos e filhas, é claro, mas a turma que vai se agregando aos poucos.
Hoje, uma de minhas irmãs mais velhas, Anna Maria, faz 80 anos. Falei com ela há pouco por telefone e, mais uma vez, Anna Maria falou sobre como é gostoso ter uma família como a nossa, onde todas as irmãs se preocupam e querem o bem da outra. É verdade: podemos ter nossas diferenças de idade, religiosas, culturais, comportamentais, mas ninguém fica perturbando ninguém ou censurando. Você sente que todo mundo está sempre querendo o seu bem mesmo que você não trilhe os mesmos caminhos.
Por isso, hoje esse post bem estilo diário mesmo é dedicado a você, Anna Maria, que largou sua casa para cuidar de minhas filhas há 15 anos quando passei 40 dias nos Estados Unidos a convite do Rotary Club de Cáceres, numa viagem de intercâmbio. Você e Junilza, minha irmã de Brasília, foram 10!
Desejo a você muita saúde, paz e sabedoria para continuar seu caminho. Espero revê-la em breve!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Elton Medeiros no Chorinho




Em primeiro lugar, quero me penitenciar por não ter levado minha máquina para registrar o show de abertura do novo espaço do Chorinho. Pedi carona a um amigo e, para variar, me atrasei. Quando ele chegou, eu ainda não estava pronta e tiver que correr. Com isso acabei arrumando a bolsa às pressas e me esqueci de pegar a máquina. Azar meu!
A sorte que tinha vários fotógrafos lá e acredito que, em breve, poderei postar aqui fotos da nova sede do bar Choros & Serestas, matando a curiosidade dos amigos que me seguem e já têm o Chorinho como referência em Cuiabá.
A noite foi ótima. Casa cheia, pessoas excitadíssimas com a novidade e rasgando o verbo em elogios para Marinho, o dono do Chorinho há 19 anos. A propósito, Marinho, mais habituado a dedilhar com maestria seu violão de 7 cordas, estava super nervoso com tanta coisa para resolver. Mas, tanto ele quanto Fátima, sua mulher e administradora do Chorinho, estão de parabéns.
Ontem, eu não estava repórter: não levei relógio, nem papel e caneta para anotar detalhes da programação. Sei que a primeira apresentação, do violonista Joelson Conceição, acompanhado de músicos como Marquinhos no bandolim, deve ter começado por volta de 22h30m e a música instrumental - e maravilhosa - serviu como um esquenta para o show principal.
Elton Medeiros e seus acompanhantes (Paulão 7 cordas e Márcio Huck no cavaquinho, além de Joacir no pandeiro, mais conhecido entre nós como Madalena) já estavam a postos numa mesa perto do palco. Elton está bem velhinho, vai completar 82 anos em julho. Apesar do aspecto franzino e uma certa dificuldade para andar, fez um show muito digno, comovente e animado em alguns sambas, como "Meu sapato já furou", "Onde a dor não tem razão" e "O sol nascerá".
Entre um samba e outro (apresentou várias parcerias com Paulinho da Viola, Cartola e Zé Keti, além de outros compositores), Elton fez questão de contar histórias sobre os parceiros consagrados com quem conviveu em décadas de samba. Infelizmente, pouco consegui escutar, embora estivesse muito perto do palco e fizesse o maior esforço para entender. Além da pouca potência da voz do sambista, muitas pessoas tiveram um comportamento no mínimo desrespeitoso, continuando a conversar e até falando alto. Não consigo entender isso: pessoas que gostam de samba não são capazes de se calar por alguns minutos para ouvir um senhor sambista de mais de 80 anos!
Mas, apesar dos pesares, o show transcorreu bem e Elton Medeiros deu conta do recado. Pena que nem todos souberam escutá-lo.
Depois da apresentação do artista principal, a competente Orquestra de Buteco (com Marcelinho à frente como cantor) tomou conta do pedaço. Como ontem, excepcionalmente, não havia lugar para dançar (o espaço estava totalmente tomado pelas mesas), minha carona ia embora e eu precisava trabalhar hoje de manhã, deixei o Chorinho por volta de 1 hora da madrugada (depois de comer um pedaço do bolo maravilhoso do aniversário do trompetista Toni), mas a casa continuava cheia e certamente o samba não ia acabar tão cedo.
O novo Chorinho ficou um espetáculo!

domingo, 22 de abril de 2012

Seja bem-vindo!



Na próxima terça-feira tenho um encontro marcado com o compositor Elton Medeiros.no bar Choros & Serestas (o Chorinho), que vai estrear novo endereço, na Rua Estevão de Mendonça, 869, perto da praça do Chopão.
Já garanti meu ingresso, pois acho que será uma noite inesquecível por dois motivos.
Em primeiro lugar por causa do artista convidado. Quando comento com pessoas com idade até 30 anos que vai ter show de Elton Medeiros, elas fazem uma cara de surpresa, como dizendo "Quem é Elton Medeiros?"
É natural que não conheçam Elton. Ele nunca foi um cara da grande mídia. É um sambista discreto, elegante, parceiro de Paulinho da Viola, Cartola e Zé Keti (outro desconhecido da turma mais jovem), autor de belos sambas como "Onde a dor não tem razão" (...Venho reabrir as janelas da vida/ E cantar como jamais cantei/ Esta felicidade ainda...) e "O sol nascerá" (A sorrir/ Eu pretendo levar a vida).
Vai se apresentar acompanhado de Paulão 7 cordas e de Márcio Huck. Acredito que Elton vai trazer aquele espírito carioca do samba, aquela emoção que só os sambistas mais antigos e os artistas de verdade conseguem transmitir. Elton Medeiros foi um dos frequentadores mais assíduos do célebre Zicartola, o bar e restaurante criado por Cartola e dona Zica na rua da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, nos anos 60.
O violonista Joelson Conceição vai se apresentar antes do show principal e a Orquestra de Buteco depois dos convidados. Joelson e Orquestra são crias do Chorinho e hoje fazem sucesso entre a moçada que descobriu a casa do Jardim Tropical nos últimos anos.
A segunda razão que torna essa noite tão importante é justamente o fato de marcar a abertura do Chorinho num novo local,bem diferente do endereço convencional.
A mudança não foi por opção ( não vou entrar nesse assunto agora) e, se por um lado. é motivadora ( um lugar novo, com outra estrutura, super bonito), por outro, assusta um pouco os mais apegados (como eu).
Será que o Chorinho vai manter o mesmo espírito de sempre? Aquela atmosfera descontraída que me cativou desde a primeira vez que botei os pés lá em 2002?
Marinho, o violão 7 cordas que é dono do bar há 19 anos, e Fátima, sua mulher, que administra o espaço, garantem que vai.
Particularmente, acho que vai ser diferente, mas isso não significa que não vá ser bom.
Torço para que o Chorinho continue um lugar maravilhoso, cheio de alegria, música boa e pessoas do bem.
Junto com o Parque Mãe Bonifácia e o Sesc Arsenal, o Chorinho é meu lugar preferido em Cuiabá.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

The end

Ai que preguiça! Na realidade, estou meio cansada, mas estou devendo o final (feliz) da novela do INSS.
Consegui receber meu primeiro benefício esta semana. Recebi um mês inteiro e mais um proporcional ao mês anterior.
Não, com certeza, não posso parar de trabalhar!
Mas é reconfortante saber que, faça chuva ou faça sol, o meu benefício estará depositado à minha espera no dia 7 de cada mês.
Não me sinto nem um pouco culpada por estar recebendo uma aposentadoria "tão jovem". Trabalhei o tempo necessário, fui descontada religiosamente e contribuí como autônoma nos anos em que estava sem emprego fixo (por recomendação de minha irmã, Jandira).
Estar aposentada por tempo de contribuição mexeu um pouco com minha vaidade. Estou ficando velha? Não, na verdade, é mais uma prova de que não sou mais jovem (pelo menos, de idade) e mereço respeito por meu tempo de labuta e minha experiência como jornalista (e professora).
Muita gente da minha idade ou até mais velha não tem o mesmo benefício. Alguns porque preferiram pagar uma previdência privada, já que não eram descontados em folha por não terem um emprego de carteira assinada; outros, como minha depiladora, porque começaram a trabalhar jovens na lavoura da família e hoje têm dificuldade para comprovar seu tempo de serviço junto à Previdência Social.
Deu trabalho garantir minha aposentadoria, mas valeu a pena. Não dá para viver com o que recebo como pensionista, obviamente, porém é um dinheiro a mais no meu apertado orçamento.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Será que muda?

No dia 21, o próximo sábado, haverá uma Marcha Nacional de Combate à Corrupção. As principais bandeiras de luta são: julgamento do mensalão e fim do voto secreto parlamentar.
Em Cuiabá, a Marcha sairá da Praça Alencastro (aquela da Prefeitura), às 15h. Estou pretendendo ir. Há muito tempo não participo de uma marcha.
Estou tão de saco cheio e enojada com meu país, ou melhor, com o ser humano no poder, que não tenho argumentos para ficar parada. Não sei se esse tipo de coisa vai resolver, mas é bom que o povo do poder sinta o quanto as pessoas (nós, simples mortais) estão fartas de tanta mentira e roubalheira.
Hoje, em Cuiabá, o grande tchan nas conversas palacianas é a demissão do super-mega-poderoso titular da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo 2014, Éder Moraes, que já foi de tudo aqui em Mato Grosso. Comandou o MT Saúde (que hoje está num caos danado), a Secretaria de Estado de Fazenda e a poderosa Agecopa (Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa), que foi reduzida à Secopa.
Nem vou tentar entender o que está por trás desse imbroglio (deixo essa tarefa aos nobres colegas das editorias de política), mas sei que tem TCE (Tribunal de Contas do Estado) no meio, José Riva (o super-mega-poderoso presidente da Assembleia) e mais um monte de gente que já foi acusado de corrupção e hoje ganha mega salários no tal TCE.
É, meus amigos, TCE em Mato Grosso é sinônimo de aposentadoria tranquila - um verdadeiro prêmio para aqueles que se locupletaram enquanto estavam no poder.
É uma pena a gente saber que nessa guerra não tem mocinho, nem bandido, só bandidos lutando para defender seus interesses e aliados.
Leio estarrecida as notícias mostrando a teia de corrupção que envolve a construtora Delta, Carlinhos Cachoeira, o governador do Rio, Sérgio Cabral, etc, etc.
Por tudo isso, eu incluiria outras bandeiras na Marcha contra a Corrupção. Mas sei que tudo isso é apenas um começo.
 Será que um dia o Brasi vai mudar?

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Meu afilhado

Hoje o dia foi corrido e teve algumas surpresas. No início da noite eu estava tomando chope escuro no Confrade com minha amiga Yêda, que conheci em Cáceres, hoje mora em Uberlândia e estava em Cuiabá a passeio; sua amiga Preta, que também morava em Cáceres, morou em Cuiabá, hoje mora em Portugal e também estava por aqui a passeio e a cunhada da Preta que veio do Rio Grande do Sul para encontrá-la.
Depois que deixei essa turma em casa, fui ao supermercado e acabei de voltar para casa.
Receio que seja muito tarde para fazer o que eu precisava fazer: ligar para o meu único afilhado, que faz aniversário hoje, ou melhor, fez porque em Brasília, onde ele mora, já é meia noite.
Por isso resolvi recorrer ao blog, este espaço quase público, para lhe dizer o quanto eu me lembrei dele ao longo do dia.
Quando batizei Augusto eu era uma menininha muito metida a intelectual, que vivia cercada de livros, mas no fundo queria ser uma menina travessa, daquelas que passa as férias na fazenda aprontando mil e umas. Além de ter sido uma leitora voraz dos livros de Monteiro Lobato (Sítio do Picapau Amarelo), fui apaixonada pelos livros de Laura Ingalls Wilder (`"À beira do riacho", "O jovem fazendeiro", etc). Tudo isso me influenciou muito.
Mas voltando ao meu afilhado, curti muito Augusto quando era pequeninho. Ele era um menininho fofo e muito inteligente, que vivia cercado de disquinhos e achava que a máquina de lavar era uma espécie de toca-discos.
Dois anos depois chegou seu irmão Júlio e cinco anos mais tarde a única menina da família, Simone.
Não vou aqui contar a história de Augusto, afinal, ele pode não gostar, mas posso dizer que ele se tornou um cara muito interessante, um grande fotógrafo que viaja muito  e escreve crônicas de viagens deliciosas. Quando ele viaja, a gente meio que viaja junto sempre para destinos meio exóticos.
É um cara que ama plantas e animais, e que cuida de árvores em sua cidade.
É uma pessoa muito generosa, principalmente, com sua tia-madrinha.
Queria poder conviver mais com ele.
O que posso desejar a ele em seu aniversário: saúde é sempre fundamental, amor, alegria, que tenha muitos sonhos e os realize.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Centenário de mamãe

Uau, hoje se minha mãe, Nilzalina Fontes Baptista, estivesse viva, faria 100 anos!
Ainda bem que existe o blog para comemorar essa data e ainda bem que existe Jandira, uma de minhas irmãs, para me lembrar das efemérides da família.
O que dizer sobre minha mãe?
Ela foi uma batalhadora. Aliás, quase todas as mulheres de sua geração foram batalhadoras. Viveram numa época - o início do século XX - em que dar à luz um filho era realmente um parto. E olhe que minha mãe teve muitos: nove ao todo, dos quais sete filhos vingaram.
Meu irmão José Feliciano, o mais velho da turma e hoje já falecido, nasceu num barco, em pleno rio Paraguai, perto do porto de Morrinhos, em 16 de novembro de 1929. Minha mãe era quase uma menina: tinha 17 anos!  Dos muitos que vieram depois, apenas eu, a caçula, a temporã, a raspa de tacho, nasci na Maternidade (que eu saiba).
 Mas não eram só os partos que tornavam essa vida tão difícil e, ao mesmo tempo, fascinante: eram as inúmeras tarefas de uma casa enorme, numa época em que não havia facilidades do mundo atual. Os filhos (na verdade, só tinha meu irmão de homem) saíam para estudar fora, em cidades distantes, geralmente em colégios internos. Havia a dor da separação, as preocupações num tempo em que a telefonia ainda capengava. Ainda mais em Corumbá (hoje Mato Grosso do Sul).
As viagens eram sempre longas e difíceis, e minha mãe morria de medo de avião.
Era uma mulher sábia, embora de pouco estudo. Cozinhava maravilhosamente, fazia crochê, tricô, costurava... E incentivava as filhas mais jovens a estudar, fazer faculdade.
Uma vez minha mãe me confidenciou que tinha vontade de ser jornalista. Acho que foi um momento muito lindo de nossa vida.
Acho que ela foi feliz a seu jeito. Amava seu Júlio Baptista, quase 18 anos mais velho (corrijam-me se eu estiver errada!), amava seus filhos, netos e bisnetos que chegou a conhecer. Nasceu em Cáceres, morou muito tempo em Corumbá e morreu no Rio de Janeiro, para onde a família se mudou em 1958.
Em 16 de outubro de 1986, ela se foi. Serena, de uma forma bem tranquila. Eu queria muito ter estado com ela nesse momento, mas já não morávamos juntas, embora eu procurasse estar perto sempre.
De vez em quando, ia à sua casa e deitava minha cabeça no seu colo. Era tão bom!
Eu tive uma mãe bem mais velha do que a dos meus amigos (ela já era avó quando nasci), mas tive uma mãe maravilhosa, linda, sagaz, que se permitia ser engraçada às vezes e que adorava tomar chope.
Acho que é por isso que todo mundo lá em casa ama tomar chope. O próximo chope que eu tomar será em sua homenagem, minha mãe!
Não sei onde você está, mas se existe céu, paraíso, sinceramente, acho que você merece estar lá.
Nilzalina Fontes Baptista
* 11 de abril de 1912
+ 16 de outubro de 1986

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mão no fogo

Há alguns dias uma prima comentou que estava muito decepcionada com o envolvimento do senador Demóstenes Torres (agora sem partido) com o "empresário" Carlinho Cachoeira, preso pela PF sob acusação de comandar um esquema de jogo ilegal em Goiás.
Digo isso com um certo pesar, mas respondi a ela que a mim nada que vinha do Senado ou da Câmara dos Deputados ou de qualquer outro órgão legislativo no Brasil me surpreendia. Ando tão decepcionada com esses políticos que nenhum deles me surpreende mais.
Conversando depois com uma de minhas irmãs, comentamos sobre alguns poucos deputados e senadores de quem não esperávamos atitudes desse tipo, mas, sinceramente, não boto a mão no fogo por nenhum deles.
Há alguns anos, um conhecido de Cáceres, ligado à política municipal e estadual, andou me sondando sobre uma possível candidatura à vereadora. Achei engraçado e disse que não tinha a menor intenção de entrar na política. Ele argumentou então que se a política estava tão desacreditada isso ocorria justamente porque pessoas como eu não se dispunham a entrar na fogueira.
Infelizmente, discordo dele. Tenho visto várias pessoas que pareciam bacanas e que ao conquistar um cargo legislativo ficam totalmente apagadas, quase apáticas. Vi isso acontecer na Câmara Municipal de Cáceres, na Assembleia Legislativa de MT e na própria esfera federal. Não vou citar nomes para não ferir suscetibilidades. Raros são os parlamentares que fazem jus a seus votos. Mesmo quando são vozes expressivas acabem sendo anulados pela intrincada burocracia legislativa.
Ruim com eles, pior sem! É claro! O perigo desses discursos desanimadoros é insuflar aqueles que defendem o poder ditatorial, mas do jeito que a coisa está - um toma lá dá cá interminável - só quem perde são os cidadãos.  Afinal, os senhores parlamentares são mestres em inventar formas de aumentar sua conta bancária (ou sua conta no exterior).
Mas, o jeito é seguir em frente e buscar no palheiro os menos ruins, os menos corruptíveis e dispostos a lutar realmente pelo bem público e honrar seus votos.
Antes que eu me esqueça, o ex-jogador Romário, como disse há poucos dias o blogueiro Gabriel Novis Neves, tem sido uma agradável surpresa e uma saudável exceção no marasmo parlamentar, que só é quebrado por escândalos como o de Demóstenes.
Sobre o assunto, leia também matéria da Agência Senado, publicada no site www.pernambuco.com  com o senador Pedro Simon. Muito interessante. http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20120409195733&assunto=27&onde=Politica

domingo, 8 de abril de 2012

Xingu

Acabei de assistir ao filme "Xingu". do diretor Cao Hamburger. É um belo filme e é claro que fiquei apaixonada pelos irmãos Villas Bôas, que sempre admirei a distância.
Os atores principais, João Miguel (Cláudio), Felipe Camargo (Orlando) e Caio Blat (Leonardo), estão ótimos. É impressionante como João Miguel consegue passar tanta coisa com o olhar, sem dizer uma palavra.
O filme é muito bom e faz um resgate fundamental de uma parte recente - e tão desconhecida - da História recente do país.
A única ressalva que faço é que algumas partes ficam mal explicadas: como dois irmãos que chegam à expedição Roncador - Xingu como analfabetos passam a líderes de um grupo de vanguarda? Essa passagem não fica esclarecida no filme.
Outra passagem que achei falha é a da luta dos índios contra os brancos que tinham tomado conta da terra dos Caiabi. Como terminou a luta? Quantos morreram no confronto? Quem levou a melhor?
Enfim, quero assistir novamente ao filme, que tem imagens e uma trilha sonora belíssimas e fica no meio do caminho entre o documental e o ficcional, embora seja dito na apresentação que se trata de um filme baseado em fatos reais. Ou seja, o filme é uma interpretação do diretor dos fatos vividos pelos irmãos Villa Bôas (que já morreram) e narrados por seus descendentes.
Vale a pena assistir.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Chame o ladrão

Cresci em plena ditadura militar e sou de uma geração que teme a polícia, principalmente a militar, sinônimo de arbitrariedade, truculência e violência.
Nos últimos anos, isso (a péssima imagem da polícia no Brasil) mudou um pouco e surgiram até filmes ("Tropa de elite" é o maior exemplo) mostrando um outro lado da polícia: ainda arbitrária, truculenta e violenta, mas com indíviduos do bem, que querem combater o mal, representado no filme  pelo tráfico (no primeiro), pelas milícias (no segundo) e a corrupção (em ambos).
Hoje conheço alguns rapazes que estão na Polícia Militar, inclusive da minha família.
Todo esse preâmbulo é para falar sobre uma situação que vejo se repetir em Cuiabá e que acho muito grave: episódios de violência e arbitrariedade envolvendo PMs de folga.
No ano passado, aconteceu o caso gravíssimo da morte do africano Toni numa pizzaria da capital. O rapaz, que vivia drogado (quanto a isso não há controvérsia), entrou para pedir dinheiro, incomodou frequentadores do local e foi espancado até a morte por dois policiais militares que estavam  acompanhados (o espancamento teve a participação de outro cliente, filho de um policial aposentado). As técnicas aprendidas na PM não seriam suficientes para apenas imobilizar Toni sem matá-lo covardemente?
O caso chocou a sociedade (há poucos dias, houve um evento para marcar seis meses da morte de Toni), falou-se em preconceito de cor, mas até onde sei os acusados não estão presos.
Agora é o caso dos argentinos. Dois irmãos divertiam-se na casa noturna Gerônimo no último fim de semana e foram acusados de terem roubado a bolsa de uma moça com quem um deles tinha dançado. Deram azar porque os acompanhantes da moça eram policiais militares. Foram presos (agora estão soltos graças à intervenção da embaixada argentina), acusados de furto qualificado (sem direito à fiança) e espancados (um deles pode ser visto hoje nos sites www.olhardireto.com.br e www.midianews.com.br sem três dentes inferiores).
Eles alegam que "foi tudo armação". A Polícia Judiciária Civil divulgou nota negando qualquer irregularidade na prisão. O que será que eles consideraram  trabalhar "dentro da ética, transparência e respeito à integridade e inviolabilidade dos direitos constitucionais inerentes às pessoas, sejam nacionais ou estrangeiros residentes ou em trânsito pelo País"?
E a Polícia Militar, não vai se pronunciar?
Esse é o tratamento que Cuiabá dá a turistas estrangeiros.
Só mais um comentário: estranho país este em que assassinos são soltos (como no caso do segurança do banco que matou o dono do restaurante Adriano na frente de várias testemunhas) e "ladrões" (supondo que os argentinos tenham roubado os pertences da moça, o que não acredito que seja verdade) permanecem presos porque o crime é inafiancável.

Leia mais sobre o caso dos argentinos em http://www.hipernoticias.com.br/TNX/conteudo.php?cid=11846&sid=184. Pela primeira vez vi alguém fazer publicamente uma ligação entre esse caso e o do africano morto, como eu fiz.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Impacto ambiental

Hoje estou esgotada pelo trânsito de Cuiabá. Sei que esse assunto é meio enfadonho para quem mora em outras grandes capitais, mas circular por Cuiabá está difícil!
Hoje, justamente hoje, saí mais cedo de casa para o trabalho. Cheguei mais cedo? Não, cheguei depois do horário porque peguei um engarrafamento insuportável perto da Rodoviária. Um trecho que geralmente não me toma nem cinco minutos levou mais de 20 para ser percorrido debaixo de um sol escaldante. Fiquei imaginando o que estaria causando tanto transtorno e, para minha surpresa, havia uma pequena colisão envolvendo um caminhão do Buffet Leila Malouf e um carro de passeio. Como os dois estavam encostados numa das pistas, pronto, isso foi suficiente para causar um congestionamento com reflexos na avenida Miguel Sutil.
Nem precisa dizer que os motociclistas logo começaram a circular livre e impunemente pelas calçadas, ameaçando os pedestres que caminhavam pelo canteiro central (muitos estudantes).
Qualquer batidinha causa uma confusão enorme e não se vê nem sinal de um guarda de trânsito ou de um agente municipal (o tal Amarelinho), ambos figuras raras.
Na saída do trabalho, mais engarrafamento, como de costume. Bateu uma saudade de Cáceres!
Fico imaginando como vai ficar a cidade quando começarem as "esperadas" e prometidas obras para a Copa de 2014. A gente vai sofrer.
Anteontem, uma amiga me contou que será aberto um McDonald's em nosso bairro, o Popular ou Goiabeiras (nunca sei onde moro). Segundo ela, a lanchonete (estilo drive thru) vai funcionar na avenida Isaac Póvoas, num terreno que também tem entrada pela rua Sebastião. Como nesse trecho também vai abrir em breve uma casa noturna no estilo sertanejo (a Valley), já estamos imaginando como vai ficar o trânsito, já que passar ali nas noites de sexta-feira, sábado e véspera de feriados já é complicadíssimo por causa do movimento da Praça Popular, point da moçada a partir da noite de sexta-feira.
Acho uma loucura isso: os empresários vão abrindo estabelecimentos, construindo prédios sem que haja qualquer planejamento. Ninguém pensa no impacto que a obra vai causar.
Fala-se muito em impacto ambiental. Para mim, isso também deveria ser considerado impacto ambiental.




terça-feira, 3 de abril de 2012

Pé na estrada

Hoje fiquei pelo menos uma hora esperando em dois consultórios médicos, mas não me aborreci porque tinha levado um livro para ler e não fiquei à mercê das revistas amassadas e frívolas que os médicos costumam deixar para seus pacientes. Haja paciência!
Estou lendo "On the road" (Pé na estrada), de Jack Kerouac, um livro que mora na minha biblioteca há décadas. Ele já está até amarelinho, coitado, com cara de livro comprado no sebo.
Aliás, não sei como ele foi parar na minha estante, se foi um presente ou se fui eu mesma que comprei.
A tradução (ótima) é de Eduardo Bueno e Antonio Bivar e a edição de 1984, da Editora Brasiliense.
Eu me lembro de já ter iniciado a leitura em outras ocasiões, mas  ela não foi para frente. Desta vez, não: está fluindo, assim como as palavras do protagonista, Sal Paradise, que até onde sei é apenas um nome criado para um personagem autobiográfico.
O livro é uma delícia e perfeito para esses dias meio monótonos, um antídoto perfeito para a rotina diária (e olhe que minha rotina não é assim tão ortodoxa). 
Para quem não conhece, esse clássico da literatura norte-americana contemporânea conta as aventuras e desventuras de Sal numa viagem louca pelos Estados Unidos da costa Leste ao Oeste, no limiar dos anos 1950. Os personagens são todos enlouquecidos, tipos bizarros que Sal vai encontrando pelo caminho, poetas, escritores, artistas, andarilhos.
Há alguns dias eu me queixava com minha amiga de leituras em Cuiabá que estava sem livros para ler e ela - que costuma me emprestar livros - disse que os seus estavam encaixotados por causa de uma reforma na casa.
No último fim de semana pincei "On the road" na estante e estou adorando essa viagem louca ...
É tão bom quando se está de amores com um livro!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Acima do bem e do mal?

Dei uma saidinha rápida pelo bairro Goiabeiras para ir ao banco e quase esbarrei em dois motociclistas transitando pela calçada.
Por que os motociclistas se consideram acima do bem e do mal?
Por que eles avançam quando o sinal está vermelho? Por que trançam pelas vias deixando motoristas loucos? Por que acreditam que podem circular impunemente pelas calçadas?
Tudo isso é feito em nome de uma pressa que move a vida urbana e deixa as pessoas cada vez mais à mercê de acidentes.
Vale acrescentar que tudo isso acontece porque Cuiabá é uma cidade sem policiamento, como, aliás, a maioria das capitais brasileiras.
Fico morrendo de pena quando vejo aquelas pessoas nos prontos-socorros com pernas fraturadas e expostas ao mau funcionamento do serviço público de saúde.
Não sei se premidos pelos patrões ou pela ansiedade típica do ser humano sobre rodas, mas acho que motoristas e princialmente motociclistas se esquecem de que são feitos de pele e ossos quando desafiam a lei e o bom senso. Uma pena.