sábado, 30 de abril de 2011

Descartável

Acabei de ler um texto lindo, atribuído ao escritor uruguaio Eduardo Galeano (em tempos de internet, a gente nunca sabe se os textos realmente foram escritos pelos autores aos quais são atribuídos).
Ele fala sobre a sua inadaptação a um tempo em que muito pouco se guarda e quase tudo é descartável, devendo ser substituído por modelos mais novos. Com isso produz-se muito mais lixo que num passado recente e as pessoas vão mudando seus valores.
Eu me identifiquei com o texto porque sou muito apegada às coisas e fui criada por uma mãe muito econômica que vivia ralhando comigo dizendo para eu aproveitar melhor a pasta de dente do tubo. Ela também chamava minha atenção para outros tipos de desperdício.
É engraçado: às vezes me pego ralhando com minhas filhas (principalmente a mais velha que mora comigo) pelos mesmos motivos.
Eu tinha mania de coleção: de gibis, de adesivos (aqueles plásticos que a gente ganhava de lojas, clubes, e pregava na janela), caixas de fósforos, cartões postais, etc. Nas minhas mudanças de casa - do apartamento da minha mãe no Flamengo para o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, depois para Cáceres e, mais tarde, para Cuiabá - fui sendo obrigada a me desapegar de algumas coisas, mas mesmo assim ainda guardo muita tralha velha: cartas de amigos, revistas - Realidade, Veja, Cruzeiro -  e jornais velhos. Um dia vou me embora deste mundo e o que vai acontecer com as coisas que acumulei?
Mas voltando ao assunto original, o que mais me tocou no texto atribuído ao Galeano foi a passagem sobre as fraldas dos filhos que eram lavadas e usadas novamente. Sou mais jovem do que o autor, mas eu também não usei fraldas descartáveis nas minhas filhas. Usei uma vez, achei que dava alergia na primogênita e me mantive fiel às fraldas de pano (compradas por minhas irmãs na Casa das Fraldas no Rio). Tudo parecia relativamente fácil, já que eu tinha uma pessoa maravilhosa que me ajudava nos trabalhos de casa.
Eu me lembro que na época da fazenda Recreio, no Pantanal, algumas vezes eu propunha uma troca com Ledina, minha querida ajudante: ela ficava cuidando da Diana, enquanto eu lavava as fraldas de pano no  corixo. Eu ia de biquíni e aproveitava para tomar sol. Imagine a cena! Mas era Ledina quem passava meticulosamente as fraldas com um ferro-a-brasa que parecia pesar uma tonelada, nas tardes quentes do Pantanal.
O texto enviado por um amigo do Rio me trouxe muitas lembranças  e se for puxando o fio da meada não paro tão cedo. Vou fechar o bauzinho das memórias por enquanto porque preciso liberar o netbook para minha filha estudar e preciso fazer outras coisas agora.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Carnaval real

Poucas coisas me irritam mais do que essa balbúrdia em torno do casamento real.
Respeito o gosto de cada um, mas me irrita ver um casamento que acontece a milhares e milhares de quilômetros do Brasil - e que até onde sei não terá influência qualquer na nossa vida - ocupar tanto espaço na mídia nacional.
Ontem fui obrigada a almoçar ouvindo uma reportagem no jornal Hoje (mais uma) sobre o enlace real. Minha filha mais velha, que é desligadíssima de tudo, ficou chocada de saber que o casamento de sua quase xará, a mãe do noivo da vez, não tinha sido um conto de fadas depois da pompa da cerimônia. A matéria falava sobre traições, baixarias, tudo aquilo que a gente que tem mais de 30 anos está farta de saber.
O que me irrita mais é a hipocrisia toda e o aspecto comercial que salta aos olhos. Muita gente fatura com esse casamento. Os noivos já vivem juntos, já brigaram, separaram e voltaram a viver juntos, mas é preciso fazer todo esse carnaval para que o Reino Unido volte a ter - por algumas semanas - o fausto e a glória do passado colonialista, quando a Inglaterra dominou mares e territórios.
Quanto tempo esse casamento vai durar? Será que os dois repetirão o exemplo de Charles e Diana ou do tio Edward e a "malvada" Sarah, que sequer foi convidada para o casamento de agora? Ou terão um casamento gelado como o da avó Elizabeth II e seu marido?
Torço para que sejam felizes, o que convenhamos, é bem complicado nos dias de hoje principalmente para um casal que será perseguido por holofotes o tempo todo. Ainda bem que eles moram num lugar bem isolado.
Concluindo, em matéria de fantasia, prefiro assistir a desenhos animados como "Rio" e "Enrolados", que são uma delícia e bem mais românticos. 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A realeza tupiniquim

Ontem quando vi a notícia sobre a morte de Neuzinha Brizola fiquei com vontade de escrever um post em sua homenagem.
Temos quase a mesma idade e Neuzinha me lembra uma época boa, quando eu morava no Rio e tinha bem mais sonhos e esperanças do que hoje. Filha do ex-governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, que estava então no auge de sua popularidade, Neuzinha chegou à corte fluminense "causando".
Virou uma celebridade e vivia na mídia. Até virou cantora (?). Era muito louca, irreverente, chegou a ser presa por envolvimento com drogas e passava aquela imagem de filhos de pais famosos que aparentemente têm tudo, mas demonstram uma enorme carência afetiva.
Depois do fim do reinado de Brizola - e da morte do politico gaúcho, após ser derrotado no seu sonho de ser presidente da República -, Neuzinha sumiu do noticiário. Pelo menos, eu nunca mais ouvi falar dela até saber ontem que tinha morrido depois de ficar internada com complicações pulmonares em consequência de hepatite. Espero que ela tenha encontrado alguma paz em vida.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Tudo novo de novo

Os dias andam passando numa velocidade estonteante. Estamos quase em maio! Depois junho e pronto, lá se foi o primeiro semestre de mais um ano.
A semana mal começou e já estamos no meio dela. Hoje já é dia de ensaio do Madrigal do Avesso novamente, o que é ótimo, porém tudo isso dá uma sensação de vertigem, que às vezes é meio assustadora.
Nos últimos tempos se eu ficar duas semanas sem falar com alguém quando a gente se reencontrar muita coisa terá mudado. Em termos. As coisas mudam na superfície, mas na essência continuam na mesma.
Ontem, por exemplo, "pedi demissão" de um emprego que "foi meu" durante duas semanas. Os motivos não são segredo: adorei o trabalho, mas para levá-lo em frente com a dedicação necessária eu teria que ganhar o dobro e, sobretudo, receber o valor devido. Nessa altura do campeonato não dá para trabalhar sem dia para receber. Não consigo.
Ontem, antes de dormir, conversei bastante com uma amiga/sobrinha que mora nos EUA e me entende como poucos. Temos praticamente a mesma idade e muitos desejos e dificuldades em comum, embora sejamos muito diferentes, é claro. De qualquer maneira, ela me deu uns toques bacanas e a uma certa altura da conversa me questionou:
- O que você quer fazer?
Respondi meio sem pensar:
- Escrever.
- Escrever o que? - ela provocou.
Ainda não tenho essa resposta, mas essa reflexão me leva a um conselho de um consultor muito rico que entreouvi há dias num "Globo Repórter" sobre Cingapura.
- Qual a receita para ganhar dinheiro? - perguntou a repórter Glória Maria.
- Fazer o que você saber fazer melhor - respondeu o entrevistado, cujo nome não sei.
Sempre acreditei nisso. Ganhar dinheiro sem fazer o que gosta sempre me pareceu uma bobagem, mas ainda não sei se essa fórmula funciona comigo e, tampouco, tenho certeza sobre o que mais gosto de fazer e o que sei fazer melhor, embora tenha algumas pistas.

domingo, 24 de abril de 2011

Ao pediatra, com carinho

Domingo de Páscoa, dia de confraternização, dia de perdão - me disseram.
Meio obrigada, assisto ao "Fantástico" e vejo uma reportagem muito interessante sobre a falta de médicos pediatras no Brasil.
A matéria me deixou pra baixo.
Minhas filhas estão hoje com 21 anos e 19 anos e não precisam mais de pediatras (embora, de vez em quando, se a coisa aperta,  a gente ainda recorra à tia Márcia, que é tia de verdade e pediatra), mas pensei nos meus netos que um dia virão e em tantas crianças que sofrem por falta de um bom atendimento médico.
O pediatra é um médico tão especial. Como disse uma médica entrevistada na reportagem, ele precisa entender o problema de um paciente que na maioria das vezes não fala, só chora.
As mães procuram ajudar, interpretando os sinais dos filhos, mas muitas vezes atrapalham mais do que ajudam. Quando o filho está doente, é difícil para a mãe manter a calma. Acho que ficaria louca se não tivesse contado sempre com bons pediatras.
Eu me lembro que ja passei aperto na fazenda com filhas pequenas numa época em que a comunicação era difícil e a viagem longa. Nesse tempo, em que morávamos em Cáceres, no interior de Mato Grosso, a tia Márcia ainda não tinha voltado da especialização em Campo Grande e a nossa pediatra oficial era a doutora Ana Maria. Quando ela estava viajando, quem nos atendia era a doutora Mara, que alguns anos depois deixou de atender no consutório. Ambas eram ótimas.
Eu era uma mãe relativamente calma e organizada, por isso levava sempre uma boa farmacinha para o Pantanal e conseguia lidar razoavalmente bem com os problemas que surgiam. Para isso, contava também com uma espécie de Bíblia das mães de primeira viagem: o livro do doutor Rinaldo De Lamare ("A vida do bebê").
Mas isso são memórias que vem à tona e que só me ajudam a lamentar ainda mais que menos médicos estejam se dedicando à nobre tarefa de cuidar das crianças. Isso, para mim, é mais um reflexo de duas situações: de um lado a desvalorização da medicina; de outro, a busca dos profissionais pelas especialidades que dão mais dinheiro e menos aborrecimento.
Pediatria dá muito trabalho. Conheço mães (sem problema de dinheiro) que esperam a noite chegar e a situação apertar para correr atrás do pediastra. Tem as que ligam para o pediatra  por qualquer bobagem. E o que dizer daquelas que não podem ver um pediatra no supermercado sem crivá-lo de perguntas, numa espécie de consulta informal?
A pediatria, como não requer muitos "procedimentos" (assim como a clínica geral), acaba dando pouco retorno financeiro ao profissional, que se vê refém, em geral, das consultas pagas pelos planos de saúde. Por isso muitos acabam preferindo dar plantões nos hospitais e clínicas (que remuneram melhor), mas que não oferecem a mesma qualidade de serviço.
Que bom que minhas filhas tiveram a sorte de serem atentidas pelas doutoras Ana Maria e Mara, e, mais tarde, pela doutora Márcia Cristina! Lamento pelas crianças que não têm a mesma sorte e, mais uma vez, tenho a sensação de que podemos estar evoluindo em termos de tecnologias disponíveis, mas estamos andando para trás em termos de humanização.
Será que estou enganada?

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-feira Santa

Quando eu era criança a Sexta-feira Santa era um dia muito especial, quase aterrorizante. Geralmente eu ia à igreja (Santíssima Trindade, na rua Senador Vergueiro, no bairro carioca do Flamengo) na quinta-feira com minha mãe e me impressionava com ar sombrio que imperava na véspera da Sexta-feira da Paixão.
Eu não me lembro direito das coisas, mas sei que o sentimento era de que Jesus passaria novamente por todo o sofrimento do Calvário até morrer na Sexta, às 3h da tarde, para ressuscitar no Sábado de Aleluia. Domingo era dia de comer ovo de Páscoa. Só alegria.
Às vezes eu me impressiono com o fato de ter sido criada dentro de uma casa católica, ter cumprido todos os rituais da Igreja (batismo, crisma, primeira comunhão, etc) e ter me afastado tanto num determinado momento da minha vida.
Não me afastei dos valores transmitidos por minha família - respeito aos mais velhos, lealdade, honestidade e culpa quando se sente que não se conseguiu seguir alguns desses princípios -, mas em compensação eu me sinto tão perdida em termos de fé, religião.
Hoje comentei sobre a doença da amiga da minha filha com uma vizinha e ela disse que a gente tem que acreditar num plano superior para aceitar fatos como esse.
É esse cerne do problema. Às vezes quero acreditar nisso e confiar em que existe um sentido para tudo e que haverá de fato uma recompensa para as pessoas "do bem". Mas o que realmente acredito é que não existe recompensa e que estar ((ou procurar estar do lado do bem) é a recompensa (ou o castigo) em si para aqueles que aprenderem a distinguir o certo do errado.
Em outras palavras, se alguém não tem valores éticos, o que é certo e o que é errado? Não existe culpa, nem remorso. Não é assim que funciona a mente dos psicopatas?
Mas se você foi criado aspirando fazer o bem e sabendo muito bem distinguir o que é certo do que é errado, se fizer o que manda a sua consciência, sua recompensa será dormir em paz; se não fizer, o remorso, a culpa, o medo vão te causar um sofrimento tão grande que no final você vai se indagar se valeu a pena agir daquela forma e vai procurar agir melhor da próxima vez.



Monumento aos Gaicuru no Parque das Nações Indígenas em Campo Grande (MS)
Hoje li um trecho muito interessante do livro "Gente pantaneira" de Abílio Leite de Barros que tem a ver com o que acabei de falar. O autor investiga a ascendência dos indígenas mato-grossenses no bugre pantaneiro e traz informações saborosas acerca de várias etnias, algumas mais guerreiras e outras mais pacíficas. Ele diz que um dos comandantes do Forte de Coimbra, Ricardo de Almeida Franco, teria condenado as técnicas de guerrilha dos guaicuru, que lhe pareciam covardes e traiçoeiras.
 "Vocês lutam frente a frente, arriscando-se a morrer porque estão com pressa de ir para o céu; mas nós que não somos batizados e não vamos para o céu, não temos razão para procurar a morte", teria  respondido um gaicuru, segundo Cavalcanti M. Proença, citado por Abílio.
E quando não se acredita no céu, mas também não se sabe em que acreditar, como a gente fica?


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Perplexidade

Escrevo este post diante do rosto cheio de lágrimas da minha filha caçula que acabou de receber notícias nada boas sobre uma amiga doente.
Como é difícil se encarar uma doença pesada quando se tem 19 anos e o futuro (aparentemente radiante) pela frente! O que dizer para consolá-la? Ou melhor, como explicar por que uma pessoa jovem, estudiosa, pode ser pega de surpresa por uma doença tão traiçoeira?
Durante o almoço ouvi que o telejornal local (TVCA) falava sobre violência entre estudantes nas escolas, meninas e meninos que trocam socos, pontapés e outras formas de agressão por qualquer motivo.
Em outro momento o apresentador falou da ocorrência de um acidente de trânsito por hora na Grande Cuiabá nas últimas 24 horas. Provavelmente muitos deles envolveram jovens, já que é difícil um acidente que não envolva pelo menos um motociclista. Hoje, mesmo, no caminho para o aeroporto, vi uma motocicleta no chão e o trabalho da perícia sendo realizado (o acidente envolveu um carro de polícia).
Há dois dias assisti com minha filha mais velha à reportagem do "Profissão Repórter" sobre o envolvimento (cada vez mais cedo) dos jovens com bebidas alcóolicas. Tenho duas filhas moças (19 e 21 anos) e o assunto está longe de me ser estranho, embora eu esteja sempre alertando-as sobre os riscos do consumo em excesso do álcool.
Mas o que é "em excesso"? Melhor seria não beber, mas como posso exigir isso delas se também bebo? Posso apenas orientá-las sobre os riscos de se beber além da conta (perder a noção de perigo, se intoxicar, se machucar) e garantir: é possível se divertir sem beber.
Nossa sociedade é hipócrita e selvagem, cada vez mais selvagem, embora muita gente insista em dizer o contrário. Muita gente adora se engalfinhar em brigas e, o pior, muita gente gosta de assistir às brigas. Me desculpem, mas será que evoluimos tanto do tempo em que cristãos eram jogados aos leões ou que os gladiadores se enfrentavam até a morte?
Acabei fugindo do assunto inicial: a vida  é muito estranha, enquanto uns lutam desesperadamente para vencer uma doença ainda sem cura e outros sofrem por sua incapacidade de fazer algo para tornar essa luta mais equilibrada, outros praticamente procuram a morte ingerindo álcool em quantidades absurdas, dirigindo bêbados, caçando briga, confusão.



terça-feira, 19 de abril de 2011

Sessão Nostalgia

Gente, como a profissão de jornalista está desvalorizada! Provavelmente outras profissões liberais também estão, mas posso falar com mais propriedade da minha realidade.
Eu nunca sonhei ser milionária e acho que se eu quisesse ganhar muito dinheiro jamais teria me tornado jornalista. Mas eu queria ter dinheiro para pagar minhas contas, ter uma certa tranquilidade quando ficasse mais velha. Nunca planejei me casar, ter filhos, ser sustentada por um marido ...
É engraçado como as coisas vão acontecendo na vida sem que a gente planeje. Acabei me casando, tendo filhos, abandonando a profissão de jornalista por alguns anos e a retomando depois (com alegria). Tudo isso já contei nesse espaço de alguma forma. O que me espanta é como mudou a realidade de um jornal diário!
Eu fico me lembrando da redação dos jornais em que trabalhei no final dos anos 70 e na década seguinte. Mesmo a Última Hora, que já não vivia sua fase áurea, tinha uma certa estrutura. O segundo caderno, por exemplo, tinha um editor e um subeditor. 
 O "Jornal do Brasil" então era um luxo! Aquela redação enorme com várias editorias, editores, subeditores, pauteiros, chefes de reportagem, subchefe, secretário. Tinha até contínuo - os office boys, aqueles meninos super simpáticos que quebravam mil galhos para nós. Tinha lanchonete, restaurante, motoristas incríveis, ascensorista (eu não me lembro do nome de um deles, o mais querido, só sei que ele sofria muita gozação quando o Vasco perdia), um estacionamento enorme cheio de carros, onde uma vez tive a capacidade de apertar meu dedo na porta do meu carro.
No mesmo prédio (na avenida Brasil 500), funcionavam também a Rádio JB, a agência de notícias. Tudo isso são lembranças porque há muito tempo o JB já não é mais esse gigante. Hoje ele se tornou virtual e perdeu o posto do jornal mais tchan do Rio para O Globo faz tempo (ainda bem que eu não estava lá para presenciar esse fim).
Nos últimos dias, eu me lembrei muito da época em que trabalhei na Editoria Nacional e via o jornalista Zuenir Ventura iniciando a edição do Caderno B, onde sempre sonhei trabalhar. Hoje eu tenho a chance de editar o "caderno B" de um diário cuiabano, mas como tudo é diferente!
A propósito, quando deixei o JB para vir morar em Mato Grosso em outubro de 1988 eu ganhava bem. Não tenho ideia de quanto. Só sei que deixei a Veja para retornar ao JB ganhando um pouco mais do que ganhava na sucursal da revista, que não era pouco. Em pouco mais de um ano que trabalhei nessa última fase do JB recebi um convite para trabalhar no segundo caderno de O Globo e outro para trabalhar em O Dia, que estava em franca ascensão. Como a diferença salarial era pequena, preferi continuar no JB. Bons tempos, hem?

PS. Eu me lembrei do nome do ascensorista: Vovô!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Gratidão

Tento vencer o desconforto do calor e driblar o desejo de me atirar numa piscina para atualizar o blog - antes tarde do que nunca.
Estranha obrigação essa, que se mistura com o prazer de confidenciar com amigos antigos e os novos que vão chegando minhas últimas aventuras.
Hoje eu teria muito o que contar, mas vou me ater a um episódio vespertino que me deu imenso prazer.
Fui convidada para fazer uma palestra sobre meu livro ("Cantos de amor e saudade - a história de Cáceres contada através das lembranças de vó Estella") para um grupo de terceira idade numa clínica de Cuiabá que se chama Humanizar.
Fiz uma entrevista há alguns meses com uma psicopedagoga, que é uma das donas do lugar e minha vizinha. A conversa foi tão boa que acabei lhe falando de meu livro e, para variar, acabei lhe dando um exemplar.
Há três semanas ela me interfonou perguntando se eu faria a palestra e, para minha surpresa, ainda me ofereceu um pro-labore. Foi a primeira palestra paga da minha vida. Disse também que eu poderia levar alguns livros para vender.
Na confusão que tomou conta da minha vida nos últimos dias, nem tive muito tempo para curtir a expectativa. Cheguei lá hoje poucos minutos antes do horário marcado e me vi diante de uma plateia de sete senhoras e mais duas pessoas da própria Humanizar.
Foi tão gostoso! Durante uma hora eu me lembrei do processo de criação de "Cantos de amor e saudade", que se chamou "Estrela de uma vida inteira" em sua primeira versão, lançada em 1998. Eu senti minha voz embargada e meus olhos marejados ao me lembrar de meus encontros com dona Estella e do jeito carinhoso com que ela sempre me recebia. Eu me lembrei de quanto fui feliz naquele período, apesar das dificuldades enfrentadas cujas lembranças o tempo vai apagando. Eu me lembrei da generosidade e da sabedoria daquela senhora que eu tive a sorte de conhecer durante os anos em que morei em Cáceres.
Foi tão gostoso ver os rostinhos interessados da minha pequena e seleta plateia, seus risos e manifestações de entendimento. A hora passou tão rápida e, para minha surpresa, todas quiseram comprar o livro e ainda tive que improvisar uma tarde de autógrafos.
Foi bom demais. Coisas desse gênero são tão reconfortantes ...
Faz muito calor e meu corpo reclama por um bom banho, mas não posso deixar de pensar nas palavras de uma senhora que foi a primeira a falar quando finalmente lhes dei espaço para perguntas e comentários. Ela disse que não gosta muito de pensar no passado porque foi muito bom e deixou muitas saudades. Lamentou que hoje as crianças (seu netos ou bisnetos) não possam desfrutar das brincadeiras do passado e fiquem somente diante da TV e de computadores.
Concordo com ela no que diz respeito ao comportamento das crianças de hoje, mas discordo no que diz respeito ao passado. Acho que ele deve ser relembrado, valorizado, embora a gente não possa ficar agarrada a ele e nem deva fazer dele um motivo para tristeza. Ele sempre pode ser fonte de alegria e prazer. Não dá para esquecer as pessoas que amamos. Dona Estella Ambrósio não é da minha família, mas posso dizer que gosto dela como se fosse. Ela foi uma das pessoas mais lindas e importantes que passaram pela minha vida. Eu lhe serei eternamente grata por tudo que me proporcionou.

sábado, 16 de abril de 2011

Desconforto

Gente, como é difícil viver! Como é difícil lidar com nossas dificuldades e reconhecer nossos erros!
Hoje, um incidente banal, acabou comigo. Nem vou tentar aqui relatar o episódio para não torrar a paciência do meu leitor. O que quero compartilhar é o desconforto de ter me sentido (e ainda estou me sentindo ainda) uma pessoa má, destemperada.
Como eu gostaria de ser sempre uma pessoa calma, justa, equilibrada, daquelas que nunca perdem a cabeça!
Às vezes eu me estresso e, quando isso acontece, acabo magoando quem está mais perto de mim (no caso, minha filha mais velha).
O incidente em si já foi contornado, já pedi desculpas e fizemos as pazes. Ela  saiu: foi passear contente da vida; eu fiquei aqui ainda remoendo o meu desconforto.
Nessas horas queria tanto acreditar que sou um ser humano em evolução e que terei a chance de me tornar uma pessoa melhor um dia - menos pessimista, mais confiante e capaz de compartilhar o bem com todos indiscriminadamente. Uma espécie de santa.
O que fazer quando a gente se sente assim?
Se eu vivesse na "idade das trevas", talvez eu me imporia um castigo como aqueles personagens malucos que a gente vê em filmes e romances de vez em quando. Mas, como não vivo, posso tentar me livrar desse desconforto compartilhando-o neste espaço, me acalmar e aceitar minhas imperfeições.
A propósito, a apresentação do Madrigal do Avesso foi linda ontem. Além de nós, apresentou-se um grupo de músicos da Orquestra Jovem sob a regência do maestro Murilo Alves (que também vai dar o curso de regência junto com  Carlos Taubaté). Bem na hora em que eles apresentavam a terceira peça (um trecho de uma das obras mais conhecidas de Mozart) a luz acabou. Foi emocionante! Os músicos (todos muito jovens) continuaram tocando (ainda com mais entusiasmo) e, pouco a pouco, pessoas da plateia foram socorrendo regente e instrumentistas com a lanterna de seus celulares. Assim que a apresentação acabou, a energia voltou. Parece até que foi combinado.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sonhando

É incrível a beleza e a riqueza do cancioneiro brasileiro. De vez em quando eu me surpreendo com uma canção redescoberta - uma daquelas músicas que a gente conhece faz tempo, mas nunca deu o devido valor.
Foi o que aconteceu recentemente com "João Valentão" de Dorival Caymmi. Nunca prestei muita atenção na música e acho que nunca fui muito além da abertura, que sempre achei meio estridente:
"João Valentão é brigão
Pra dar bofetão
Não presta atenção
E nem pensa na vida ..."
De repente, ao começar a cantá-la nos ensaios do Madrigal do Avesso, fui descobrindo aos poucos - e graças aos toques do regente Taubaté - toda a poesia e sensualidade da música.
"É quando o sol vai quebrando
Lá pro fim do mundo pra noite chegar.
É quando se ouve mais forte
O ronco das ondas na beira do mar..."
E assim vai, no balanço do mar.
A música evoca em mim as minhas melhores lembranças de momentos mágicos vividos num passado distante.
Recordando acampamentos à beira-mar, que tiveram seu encantamento apesar dos borrachudos e outros atropelos, vou aos poucos me esqueçando do cansaço da lida, como o João Valentão de Caymmi.
Sinto falta do moreno chegando mais perto, querendo agradar (na verdade, nesse momento, eu me recordo de um loiro lindo, dourado de sol) e sigo os passos de João "que nunca precisa dormir pra sonhar"
"Porque não há sonho mais lindo
Do que sua terra"
Assim como "João Valentão", há tantas canções maravilhosas, sugestivas, quase perfeitas. Por isso gosto tanto de música. Há canções francesas, norte-americanas, inglesas, latino-americanas e de outras nacionalidades também belíssimas. Muitas vezes, a barreira da língua nos impede de conhecer canções de outros países, o que é uma pena, porque deve haver outros personagens tão incríveis quanto João Valentão mundo afora.
A propósito, o Madrigal vai cantar "João Valentão" amanhã, no Palácio da Instrução. Tomara que tenhamos essa capacidade de trazer o cheiro e o barulho do mar para o Centro de Cuiabá. 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A mil por hora

Minha vida está uma loucura esta semana. Tento relaxar e pensar nas coisas boas que estão acontecendo, mas tem hora que me dá um frio na barriga ...
Vou socializar as novidades na medida do possível:
Estou com hóspedes em casa. Quem tem casa sabe o que isso significa. Mesmo que você seja do tipo "dona de casa que não faz praticamente nada em casa" ter visita mexe com a rotina, com os espaços, mas é bom porque nos ensina muita coisa.
Fui convidada para assumir uma função de responsabilidade num jornal diário e aceitei. Por isso comecei hoje a acompanhar o trabalho da editora que vou substituir. O trabalho é bem legal e novo para mim, já que nunca editei. Por enquanto, não quero contar mais do que isso.
É claro que o trabalho num jornal diário vai mudar bastante a minha rotina e tenho que conciliar a novidade com outros compromissos de trabalho já assumidos e que vão me ajudar a pagar as contas no final do mês. E ainda tentar manter as coisas de que gosto: as idas ao Chorinho, o blog, as investidas no Facebook para curtir as loucuras do Grupo da Família Baptista da qual faço parte, a prática da yoga e, at last but not at least, (expressão inglesa que adoro), minha participação no madrigal. Será que dá para eu ser duas ou três Marthas ao mesmo tempo?
E por falar em Madrigal ( o do Avesso, é claro), nesta sexta-feira, faremos nossa estreia: às 19h, no Palácio da Instrução, no Centro. Será uma apresentação breve, na abertura dos cursos de regência de coral e de banda que serão promovidos pela Secretaria de Estado de Cultura. Acho que vai ser lindo. O ensaio hoje foi demais! No repertório, "João Valentão" de Dorival Caymmi, "Minha Namorada, de Carlos Lyra e Vinícius de Morais, e "Fato consumado" de Djavan. Fico muito orgulhosa de participar desse grupo - o madrigal do Taubaté (o maestro Carlos Taubaté, uma figuraça).  

terça-feira, 12 de abril de 2011

Caos

Faz tempo que quero falar sobre o trânsito de Cuiabá. Uma coisa me chamou atenção quando fui ao Rio de Janeiro das últimas vezes (uma vez em novembro e outra em março): fiquei uns sete, oito dias na cidade em cada temporada e não vi um acidente de trânsito.
Não estou dizendo com isso que o trânsito no Rio seja uma maravilha, obviamente.
No dia em que cheguei em Cuiabá, uma semana depois do carnaval, fiquei sabendo de acidentes horríveis através do motorista do táxi que me trouxe do aeroporto: dois com cinco ou seis mortes.
Bom, hoje o assunto me veio à mente novamente porque vi três acidentes: dois sem maiores gravidade e um com vítimas (nem olhei, só vi o carro do Samu recolhendo alguém bem em frente ao bar Clube da Esquina).  Os dois primeiros acidentes envolviam  motociclistas e o terceiro envolvia dois carros em plena avenida do CPA por volta de 18h30m.
Eu acho que três é demais e a minha conclusão é a seguinte: todas as cidades grandes sofrem do mal de ter veículos em demasia, faz parte da nossa civilização absurdamente dependente de carros e ônibus, por falta de outras alternativas. Mas acho que o povo daqui é muito ... como dizer? indisciplinado, maluco no trânsito. E, vamos combinar, a cidade não ajuda. A sinalização é péssima e a  organização viária é doida. Tem rua, como a São Sebastião, que é mão dupla num trecho, depois fica com mão única e volta a ser de mão dupla. Arre!
Junte-se a isso um monte de buracos e pronto, temos a receita para deixar qualquer um maluco.
O que me deixa muito tensa é a quantidade de rua de mão dupla onde de repente você se vê num cruzamento diante de dois carros que querem entrar na via em que você está vindo e tem hora que eu não sei de quem é a preferencial (isso me aconteceu hoje no bairro Araés).
Dirigir em Cuiabá é muito estressante e faço tudo para evitar os horários de pico, que estão cada vez mais longos.
Será que não dá para melhorar um pouco a situação? Eu acho que dá.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mulheres do Brasil

Assisti ontem ao show "Com açúcar, com afeto" no Teatro da UFMT. Foi tão bonito!
Basicamente a ideia do show era dois homens interpretando canções de compositoras brasileiras. Dois amigos - Maurício Detoni e Ebinho Cardoso -, acompanhados de outros músicos, com uma participação especialíssima de Estela Ceregatti.
O teatro não estava lotado, mas estava cheio o suficiente para criar um clima gostoso, de total harmonia entre artistas e plateia.
O repertório escolhido a dedo trazia surpresas a todo momento. Para mim, o clímax foi a interpretação de "Essa mulher" de Joyce e Ana Terra. Ficaram só Maurício e Ebinho (no baixo) no palco e foi muito emocionante. A música é linda e é conhecida numa interpretação primorosa de Elis Regina (particularmente, gosto muito da interpretação da própria Joyce). Pois a versão apresentada ontem não deixou saudades das demais.
Outro momento mágico foi quando Estela entrou no palco e cantou duas composições suas. Ela tem uma voz belíssima (grave, sensual) e tem uma presença muito forte também.
Estela e Maurício cantaram juntos outra composição de Joyce (o samba "Mulheres do Brasil") e depois ainda apresentaram "Cheiro de Mato", de Fátima Guedes - uma canção que já tinha sido cantada por Maurício, mas voltou no bis.
Repertório primoroso, cantores maravilhosos (Ebinho também deu o ar da graça como cantor) e músicos idem. Precisa falar mais?
Saí do Teatro com um gostinho de quero mais.
Ah, rolou uma interpretação linda de "Com açúcar, com afeto" de Chico Buarque, mesclada com "Camisa amarela", samba delicioso de Ari Barroso.

sábado, 9 de abril de 2011

Com açúcar, com afeto

Dando continuidade à sequência de bons espetáculos, amanhã, domingo, vai ter outro show de qualidade no Teatro da UFMT, em Cuiabá.
A partir de 20h, o encontro no palco será do cantor e compositor Maurício Detoni, cuiabano que mora no Rio de Janeiro, do baixista Ebinho Cardoso e da cantora e instrumentrista Estela Ceregatti, como convidada.
O que esperar do trabalho deles? Conheço pouco o Detoni, que já tinha ido embora de Cuiabá quando aqui cheguei, mas já assisti a um belo show dele (só voz e violão) no Sesc Arsenal. Fiquei muito bem impressionada.
Quanto ao Ebinho, já falei bastante dele neste espaço. É um músico especial, talentoso e de grande personalidade.
Tenho acompanhado mais recentemente o trabalho de Estela, uma jovem compositora, instrumentista e, principalmente cantora, de uma musicalidade rara. Parece bastante madura para sua idade e acredito que terá um belo futuro pela frente.
O encontro dos três deve ser inesquecível. Vale a pena conferir até por que trata-se de um encontro raro e que não se repetirá tão cedo.
O show se chama "Com açúcar, com afeto". O título remete a Chico Buarque, mas não sei dizer se a música (que adoro, aliás) estará no repertório do trio.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Noite mal dormida

I Encontro de Blogueiros de Mato Grosso, Congresso de Jornalistas, o sol brilhando lá fora e eu aqui angustiada. Por que?
Uma mistura de toda a tristeza do massacre de ontem na escola de Realengo com assuntos mais particulares. Uma dificuldade de entender o processo da vida e da morte, agravada pelo fato de ter assistido ontem ao filme "Nosso lar" em DVD. Não sou espírita, mas tenho uma certa simpatia pela doutrina, embora não me considere uma estudiosa. Assisti ao filme meio aos pedaços porque dormia e acordava, e tive que voltar em alguns trechos para entender melhor, mas, sinceramente, achei meio chato e confuso.
Aquela coisa do umbral e aquele povo passando com outras pessoas em macas o tempo todo me deixou agoniada ...
Juntou isso tudo com a morte dos adolescentes, a carta maluca deixada pelo assassino, a falta de informações que "justifiquem" de alguma forma o injustificável e pronto: tive uma péssima noite de sono.
Acordei por volta de 8h30 (hoje é feriado em Cuiabá) com um telefonema de trabalho (de alguém que mora em outro município) e me assustei ao não encontrar minha filha mais velha em casa. Eu desculpo tudo nela, mas quero morrer quando acontece isso. É um terror tão grande acordar e não ver sinal na casa da outra pessoa. Liguei no seu celular e caiu na caixa de mensagem. Liguei de novo e ela acordou com voz de sono e disse ter dormido na casa de uma amiga. É claro que lhe dei uma bronca pelo susto e ela argumentou que tinha me enviado uma mensagem avisando.
Por alguma razão estranha a Oi nos sacaneou: a mensagem não chegou ...  Falei: "Pelo menos você está viva". A gente sabe que notícia ruim chega logo, mas é tão desagradável a sensação de acordar e não ver sua filha na casa!
Well ... O susto passou, mas ficou a sensação de desconforto, que tentei atenuar com um mergulho na piscina do prédio, na companhia (fora da água, é claro) de um livro maravilhoso: "Gente pantaneira" de Abílio Leite de Barros (prometo voltar a ele em breve).
No mais, estou correndo porque tenho alguns compromissos agendados. Acabei novamente não falando sobre o que pretendia: o aniversário de Cuiabá e o Dia do Jornalista. Precisa? Já tem tanta gente falando sobre isso ...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Tragédia no Rio

Hoje eu pensava em falar sobre o Dia do Jornalista ou o aniversário de Cuiabá (8 de abril), mas não tenho como ficar imune à tragédia do Rio de Janeiro.
O que dizer? Tudo que dissermos será nada diante de uma coisa tão terrível que deixará marcas para sempre em todos que viveram a tragédia diretamente.
Ontem eu questionava a existência dos anjos da guarda, pois é, parece que um monte deles cochilou hoje de manhã. Quem crê vai dizer que muitos deles evitaram uma tragédia maior. Tudo é relativo e depende do ponto de vista.
Fico imaginando o desespero da professora que, segundo o telejornal da Rede Globo, teria visto o atirador entrar e teria permitido que continuasse seu caminho diante da informação de que tinha vindo fazer uma palestra. Se esse servidor tivesse barrado a passagem provavelmente estaria morto, porém talvez tivesse evitado outras mortes.
Ouvi especialistas dizendo que a escola deixou de ser um local seguro. Faz tempo, né? Tudo bem que nunca tivemos no Brasil tragédias desse tipo, mais comuns nos Estados Unidos, mas o que dizer diante dos casos diários de violência? Tráfico de drogas; professores ameaçados, espancados; alunos assassinados e espancados nas dependências das escolas, fora os casos anônimos de bullying. Vídeos exibidos na internet de alunos (e alunas) se degladiando nas dependências de escolas ou no seu entorno.
O perfil do assassino de Realengo tem tudo a ver com as características dos matadores/suicidas de outros casos semelhantes ocorridos em outros países: solitário, introspectivo, sem antecedentes criminais. Psicopata como disse apressadamente o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral?  Parece que não, mas, com certeza, um cara sofrido, atormentado, que busca a morte (a dos outros e a sua) para se fazer visível a uma sociedade que consegue ser muito cruel com algumas pessoas.
É claro que nada justifica o ato insano. Ele só demonstra que as pessoas são capazes de grandes gestos de amor e de ódio.
O difícil é lidar com isso e, principalmente,  ajudar crianças e adolescentes - pessoas com quem a vida deveria ser mais generosa - a lidar com isso. Só tenho certeza de uma coisa: esse tipo de tragédia deve ajudar a melhorar a segurança nos espaços públicos e a convivência entre as pessoas, e jamais incitar mais ódio. Disso, já temos bastante.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Anjo da guarda

Mais de uma vez já falei aqui sobre as minhas dúvidas de fé. É difícil viver sem fé numa proteção divina.
Apesar de meus questionamentos, em alguns momentos de medo e dificuldade, é claro que apelo para o sobrenatural: Deus? Meu anjo da guarda? Jesus? Nossa Senhora? Na verdade, acabo apelando para meus pais, meu irmão, avós, pessoas da minha família que já se foram.
Em alguns momentos realmente acredito que eles me protegem ou será que isso é uma ilusão que criamos para conviver com o medo e a falta de lógica do mundo?
Todos esses pensamentos foram provocados pelo "Profissão Repórter" de ontem. Gosto muito do programa do jornalista Caco Barcelos - muito próximo da escola de reportagem em que ele foi formado (a vida, o jornalismo dos anos 60/70, a revista "Realidade") e da qual me afasto muitas vezes.
Ontem o tema do programa foi triste: violência sexual. Quase desisti de ver, mas acabei me deixando ficar em frente à TV. O programa não foi sensacionalista e mostrou um trabalho bacana realizado num hospital em São Paulo (cujo nome não gravei, sorry). Vários casos foram mostrados, depoimentos de crianças abusadas, mães, avós.
Fiquei especialmente comovida com os casos da avó que levou o netinho, abusado pelo próprio pai, filho da denunciante, e também com a da moça, que foi abusada na infância, e agora viu a filha sendo abusada por primos adolescentes.
Quantos casos como esses, em que as vítimas não têm sequer a quem denunciar, devem existir por esse mundo afora?
E é aí que eu me pergunto: cadê o anjo da guarda dessas crianças?
Se Deus é tão bom por que permite que crianças sejam abusadas, maltratadas?
Alguém há de dizer que os homens são responsáveis por seus atos e isso não tem a ver com Deus. Concordo. Mas onde fica Deus nessa história?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um show de baixos

O bom do blog é que a gente não precisa ser imparcial ou muito técnica para fazer resenhas sobre os shows, filmes e espetáculos assistidos, e livros lidos.
Dito isso, vamos aos fatos: o show Bass Family foi maravilhoso! Eu não queria que tivesse acabado. Não sei os nomes das músicas (quase todas composições dos próprios músicos, acredito), mas posso garantir que elas me levaram para longe do Teatro da UFMT, de Cuiabá, de Mato Grosso, do Brasil .. No tempo e no espaço.
Quando eu fechava os olhos (fiz isso algumas vezes só para curtir), não parecia que havia três baixos e três baixistas no palco. Parecia que tinha um conjunto com guitarra, bateria, percussão, sintetizadores ...
Em alguns momentos, o som me lembrou os melhores momentos do baixista Sting (da carreira solo, pós The Police); em outras, do guitarrista Pat Metheny. Isso não quer dizer que os baixistas Grant Stinnett (norte-americano), Sérgio Groove (brasileiro de Natal-RN) e Ebinho Cardoso (daqui mesmo) fazem um som igual ao de outros músicos. Porém a fusão de três músicos de rara sensibilidade e talento ímpar criou momentos tão especiais e variados que seria impossível que a música deles não evocasse em cada pessoa da plateia suas melhores lembranças musicais.
O show abriu com uma apresentação individual dos três músicos, onde cada um mostrou seu estilo.  Stinnett entrou com a elegância e sofisticação da escola norte-americana; Sérgio entrou rasgando e fazendo jus ao sobrenome artístico (Groove), Ebinho ... ah, Ebinho é sempre ele com seu estilo leve, harmônico, aliando o baixo ao seu belíssimo timbre de voz.
Depois disso, os músicos apresentaram vários números em duplas e trios. Houve espaço para uma interpretação original de "Palpite infeliz", do carioca Noel Rosa, pelos brasileiros.
Difícil dizer o melhor momento. Queria poder ouvir tudo novamente e nem o calor inesperado no sempre gélido Teatro da UFMT (segundo a produção, um raio afetou o ar condicionado na sexta-feira) atrapalhou o prazer de assistir ao Bass family numa noite de domingo. Se não fosse por esse leve desconforto, dava realmente para se imaginar que a gente estava fora de Cuiabá. A música instrumental tem essa capacidade de nos levar longe...

PS. Soube ontem que Ebinho Cardoso e família (a mulher Rejane de Musis e dois filhos) irão para Boston no dia 13 de junho próximo para uma temporada nos EUA de, no mínimo, dois anos. Espero poder ouvi-los (Rejane tem um trabalho lindo à frente do grupo vocal infanto-juvenil Praticutucar) algumas vezes antes. Sei lá se eles voltarão para cá!

domingo, 3 de abril de 2011

Conselvan

Tenho curtido escrever posts na paz do domingão e hoje meu tema é a iniciativa de um garoto que conheci na viagem a Aripuanã. Já falei dele num post recente, onde, inclusive, publiquei sua foto.
Anteontem, para minha surpresa, recebi um email de resposta de Marcos Dyony, de Conselvan, a cerca de 80 km de Aripuanã. Não é que o danado tem um site? /http://www.noticias-conselvan.net/
Achei o máximo! Não me recordo exatamente a idade de Marcos (12? 14?), mas achei que ele era super comunicativo e agora vejo que também é empreendedor.
Chegamos a Conselvan, distrito de Aripuanã, depois de três horas de viagem, meio grogues de sono. Paramos na farmácia Estrela, de propriedade do padrasto do Marcos, para comprar remédios para um membro da equipe que estava curtindo uma ressaca danada e aproveitei para comprar o genérico do Dramin (Dramavit, acho) que "salvou" minha vida no resto da viagem. Eu estava ficando enjoada com tanto sacolejo e o remedinho, como já disse, não só me livrou do enjoo como também me deixou mais relaxada.
Conversei com Marcos 10, 15 minutos, tempo suficiente para conhecer a varanda de sua casa, nos fundos da farmácia, tirar a foto dele e saber que ele veio de Rondônia. Descobri também que, embora a cidade seja muito rústica (ruas de terras, arrasadas pela temporada de chuvas), dispunha de um provedor de internet (visada).
Foto da avenida principal de Conselvan, tirada por mim em frente à farmácia da família de Marcos


Desejo muito sucesso a Marcos e seu site. Acho que ele tem tudo para fazer um trabalho importante de divulgação de Conselvan. Espero que aproveite também o espaço para promover uma conscientização maior da comunidade local quanto à importância de reivindicar mais, se organizar. Não deve ser fácil viver em Conselvan!

PS. E ai, família Baptista, que tal organizamos nosso encontro em Conselvan?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Dois tempos

Hoje acordei desanimada. Vai saber o motivo! Temos sempre um montão de motivos para se animar ou entregar os pontos.  Às vezes um sonho ruim pode deixar a gente pra baixo sem mesmo nos lembrarmos dele ou então é um pensamento traiçoeiro que nos pega num momento de bobeira.
Acho que foi isso que aconteceu hoje. Aí pensei nas contas a pagar, em tudo que passei nos últimos anos e só consegui ver o lado negativo.
Passou ... Assim que cheguei em casa, depois de dar uma saída rápida, botei um CD maravilhoso: "três meninas do Brasil". Gravado ao vivo, o CD reúne as cantoras Jussara Silveira, Teresa Cristina e Rita Ribeiro, e me foi dado no domingo passado por minha amiga Mônica, que está sempre me surpreendendo com mimos do gênero. O repertório é incrível! Agora, por exemplo, estou ouvindo (pela segunda vez), "Para ver as meninas", de Paulinho da Viola, que é linda! Gostei especialmente da faixa "Menina amanhã de manhã", de Tom Zé e Perna Froes.
"Menina, amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer
que a felicidade vai
desabar sobre os homens ..."
(Pausa para almoço e outras coisas)
De volta ao post, é claro que meu espírito mudou completamente e agora quero falar sobre uma reportagem à qual assisti no jornal da TVCA sobre um motorista que está com um baita tumor no braço, sofrendo com dores, mas não consegue se operar pelo SUS. Uma história comprida e complicada demais.
Fiquei morrendo de pena dele e me lembrei que fiquei muito bem impressionada com o Hospital de Câncer de Mato Grosso. Fiz uma matéria sobre o hospital para a revista Corpo e Arte, e visitei o estabelecimento em janeiro passado. Achei bacana! Na terça-feira, durante o lançamento da revista, que em sua última edição convida os clientes da Corpo e Arte a ajudar o hospital, conheci o atual presidente, Dr. Castilho. Ele me pareceu uma pessoa legal, um profissional competente, e disse que o hospital está equipado de forma a oferecer um tratamento semelhante ao que a presidenta (argh) Dilma recebeu no Hospital Sírio Libanês em São Paulo. Foi o que ele me disse.
Comentei que eu tinha gostado muito do Hospital de Câncer e da equipe com quem conversei, e acrescentei que esperava nunca precisar dos serviços do hospital, mas que ficava contente de saber que Mato Grosso tinha um serviço tão bom para oferecer à população, inclusive, por meio do SUS.
A reportagem da TV Centro América (afiliada Globo local) não mencionou o Hospital de Câncer e sinceramente não sei como funciona a política de encaminhamento de pacientes para cirurgia (via SUS). De qualquer maneira fica o meu questionamento: será que o senhor da reportagem procurou o Hospital de Câncer? Como se explica alguém ficar tanto tempo com um tumor daqueles (com risco de perder o braço e a vida) se há um hospital de referência no estado?