sábado, 27 de fevereiro de 2010

A primeira pomba

Ufa ... Foi-se a primeira pomba (parafraseando o poeta Raimundo Correia). Deu um nó na garganta, uma vontade de sentar na calçada do aeroporto e me deixar ficar lá (debaixo daquele mormaço?), mas já estou aqui "tocando a vida em frente" (né, Almir Sater?)
Acreditem se quiser: vou pro Chorinho! Tem lugar melhor para "chorar" a minha dor, que se mistura à alegria e ao orgulho de ver minha filhinha partindo para um outro estado e preste a começar sua vida de universitária? Dezessete anos, quase 18, e um mundo a ser descoberto.
Como não sou egoísta (pelo menos, como mãe), só desejo que ela seja intensamente feliz nesta nova aventura que a vida lhe oferece - e que ela foi buscar.
Sua irmã está aqui num surto de arrumação do quarto (ela que não é exatamente a organizada) e braba porque acabou de descobrir que a outra levou um creme que ambas compartilhavam. É um momento novo de separar as malas, as coisas em comum.
Sei que tenho que ser forte e reorganizar minha vida, de um jeito que a saudade seja suportável e cada reencontro (por telefone, internet, etc) seja sempre uma fonte de prazer.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Bancos do Brasil

Tenho uma relação de amor e ódio com o Banco do Brasil. Há anos é o meu banco.
Quando morava no Rio tinha contas em outros bancos, de acordo com a proximidade física e o conforto oferecido pela agência. Por exemplo, o "meu" primeiro banco foi o já falecido Boavista, que fica na esquina da rua do Catete com a Almirante Tamandaré, no Rio de Janeiro, pertinho de onde morava com minha família. Na verdade, minha mãe tinha conta lá e eu, bem cedo, comecei a fazer serviços bancários, numa época em que sequer sonhávamos com o "conforto" dos caixas ou terminais eletrônicos. Só para continuar a sessão nostalgia, quando fui a Paris em 1986, achei o máximo minha amiga Mila dizer que nunca ficava na fila do banco, já que tudo era feito nos terminais eletrônicos.
Bom, o futuro chegou ao Brasil. Hoje temos internet, caixas eletrônicos, mas ainda temos filas. Deixei de confiar nas transações bancárias feitas pela internet depois que um hacker fez um empréstimo em meu nome. Por sorte, ele não conseguiu concluir a transação. Ou seja, o empréstimo foi solicitado, mas o dinheiro não foi retirado da minha conta.
Faço praticamente tudo por meio dos terminais eletrônicos, porém ultimamente tenho tido vários contratempos nas agências do Banco do Brasil. Tenho dificuldades para imprimir talão de cheques, fazer pagamentos e até para sacar dinheiro. São tantos caixas travados ou que simplesmente não funcionam em Cuiabá!
Reclamei para a funcionária de uma agência e ela me disse que o serviço de manutenção dos terminais eletrônicos foi terceirizado. Resolvi ligar para o SAC. Fui bem atendida, registrei minha reclamação e hoje, menos de 48 horas depois, recebi um telefonema de uma pessoa se identificando como funcionária da agência Paiaguás, motivo principal da minha queixa, que me informou que os terminais eletrônicos estão passando por manutenção, mas o problema será sanado "em algumas semanas". Agradeci a delicadeza, mas respondi que continuava insatisfeita, já que ela nada me disse de novo. Informei que em poucas semanas vou conferir se mais terminais estão funcionando e se não estiverem vou ligar de novo para o SAC ou para a Ouvidoria, já que agora tenho um número de protocolo.
Desliguei o telefone e li a seguinte notícia no jornal Diário de Cuiabá:
"No ano de 2009, o Banco do Brasil registrou lucro líquido de R$ 10,15 bilhões, crescimento de 15,3% em relação a 2008. Esse resultado correspondeu a uma rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido de 30,7%, retorno anualizado sobre ativos de 1,7% e lucro por ação de R$ 3,95, ante R$ 3,44 do ano anterior."
Tenho ou não motivos para estar irritada?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Rio dos Cantos 1000



Dando sequência à minha agenda cultural diversificada (tanto em espaço geográfico quanto em estilo de evento), hoje quero divulgar o lançamento do livro de um fotógrafo amigo: Custódio Coimbra. Além de ser um velho amigo, Custódio é marido de uma amiga queridíssima, a jornalista Cristina Chacel. Os dois são batalhadores e têm uma bela folha de serviços prestados na imprensa carioca.
Nos últimos anos, ambos deram para lançar livros. Tenho acompanhado de longe e na próxima segunda-feira Custódio vai lançar "Rio de Cantos 1000" pela Réptil Editora. O local é a Galeria Tempo na Avenida Atlântica, 1782, Loja E, em Copacabana, a partir das 19h, e as fotos ficarão expostas até 24 de abril. Detalhe: no dia 1º de março, não por acaso, comemora-se o aniversário da "Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil".
Nem preciso dizer quanto eu gostaria de estar lá: curtindo o clima da Avenida Atlântica, revendo amigos e me deliciando com as fotos maravilhosas do Custódio, sem falar no carinho, risos e lágrimas da Cristina, sempre um turbilhão de emoções. Para quem está no Rio de Janeiro, fica a dica. Se passar por lá no dia do lançamento ou em outro dia qualquer, curta por mim.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Música do Mato

Vou aproveitar o meu espaço hoje para saudar e divulgar outra boa iniciativa cultural, desta vez aqui mesmo em Cuiabá. Trata-se do projeto Quinta Música do Mato. que começa amanhã na Casa Fora do Eixo (Rua Marechal Floriano Peixoto, 527, atrás do antigo Café Cancun e perto do Gerônimo West Music).
Adorei a novidade: é razoavelmente perto da minha casa e poderei rever/ouvir alguns dos meus artistas prediletos. Alguns já foram bem citados aqui: o contrabaixista Ebinho Cardoso e Paulo Monarco.
Como definir Monarco? Ele não é só um cantor. É compositor (dos bons), instrumentista e intérprete. Ir a um show de Monarco (se não estiver cheio demais) é satisfação garantida. O mesmo posso dizer de Ebinho - uma espécie de Egberto Gismonti mais jovem. Compõe, toca maravilhosamente bem e também canta. Outros artistas completam o time, como Luciana Bonfim, cantora e sambista que conheci no Chorinho (o bar Choros & Serestas).
Amanhã, a partir de 21h, o show de abertura ficará por conta da "galera do Música do Mato", composta por Ebinho, Linha Dura, Macaco Bong, Monarco e Rodrigo Farinha, Nas outras semanas, o show será de Ebinho, Monarco, Luciana, individualmente. Vou conferir.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

As estrelas não dormem


Hoje está um dia atípico. Ainda bem. Eu me atrapalhei fazendo algumas coisas e fiquei sem almoço, o que não é bom. Faz tempo que eu não fazia isso. Sou uma pessoa que não funciona com fome e sempre imaginei que, sem ter o que comer, seria capaz de fazer loucuras.
Não é o caso, hoje.
Vou aproveitar para registrar o trabalho de uma escritora, amiga, sobrinha, artista, que estreia este domingo no Rio de Janeiro. "As estrelas não dormem" é o título do espetáculo, com texto e direção de Maria bel Baptista (assim mesmo com minúscula no bel, não me perguntem a razão), que pode ser conferido a partir de domingo no Teatro Municipal Café Pequeno, no bairro carioca do Leblon.
Ah, como eu gostaria de ir! Esse é o lado duro de morar tão longe do Rio de Janeiro e da maior parte do meu povo. Perco tantas estreias, festas e eventos familiares!
"As estrelas não dormem" é o título do primeiro livro de uma trilogia de Bel. É uma obra meio autobiográfica, catártica, que mistura prosa e poesia. Já faz tempo que li - na época de sua publicação, há uns 15 anos, provocou celeuma na família -, mas eu me lembro de ter gostado muito. Tem uma linguagem poética muito forte (mesmo na prosa) e um clima de realismo mágico. Aliás, é uma obra que merece uma releitura, embora eu não seja muito de reler livros (geralmente, fico decepcionada e não consigo seguir adiante).
Imagino que a transposição para o palco, feito com parcos recursos, deve ser interessante e meio louca, como tudo que Maria, Maria bel, Belzinha, Bel faz. Ela é, sem dúvida, uma das pessoas mais interessantes e criativas da família Baptista.
Segundo li num release sobre a peça "As estrelas não dormem", o espetáculo narra a história de Maria, protagonista que vive a infância em uma fazenda no Pantanal mato-grossense. A trama conta sua conturbada trajetória, desde a fuga à cidade grande até a volta após uma desilusão amorosa.
A "inusitada experiência teatral-musical-literária" de Maria bel Baptista, que estará no palco como atriz, cantora e instrumentista, tem supervisão geral de Sofia Karam, filha da autora e do músico Alfredo Karam.
Mais informações em http://diariodemarias.blogspot.com/

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ninho vazio - o filme

Acabei de ver um filme belíssimo e inspirador: "Ninho vazio", escrito e dirigido pelo argentino Daniel Burman. Quando vi o DVD na locadora, não resisti. Era muita coincidência: o título do filme e o nome da protagonista (Martha). A diferença é que no filme ela é casada com um escritor em crise. Com a partida dos três filhos, cada um reage à sua maneira. Ele, inseguro, vê-se ameaçado pelo fato da mulher voltar a ter uma vida de universitária, sempre cercada de amigos e colegas.
O filme é sutil, delicado, daqueles que você tem que ver e, se possível, rever para entender, além de ter uma fotografia e uma trilha sonora fantásticas.
Para mim, a chave de tudo está num diálogo na parte final, quando um amigo de Leonardo, o marido (não sei se esse amigo existe de fato ou é uma espécie de consciência de Leo), cita um antigo provérbio. Ele diz mais ou menos o seguinte: a angústia em relação ao futuro nos impede de viver o presente; e viver do passado tem o mesmo efeito.
Touchë!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Caravanas

Convivi pouco com meu pai - apenas quatro anos e meio, mas sei que ele está vivo no meu DNA, na minha memória (embora tenha poucas lembranças concretas dele) e no meu imaginário. Uma das coisas que associo a ele é um ditado popular: "Os cães ladram e a caravana passa". Se não me falha a memória esse dito também era muito citado por Ibrahim Sued, que fez história no colunismo social no jornalismo brasileiro.
Essa frase sempre me instigou e na minha imaginação infantil conseguia ver uma caravana enorme passando - daquelas que a gente vê naqueles filmes antigos ambientados no Oriente -, enquanto os cães não paravam de latir. Ou seria uma caravana no estilo dos filmes de faroeste, daquelas em que os colonos iam enfrentando ataques de índios ao cruzarem o território norte-americano? Não importa. O mais importante era imaginar os cães, ameaçadores, com os dentes afiados, enquanto a caravana seguia seu destino.
Sempre interpretei esse ditado da seguinte forma: poderá haver obstáculos, ameaças e sustos de vários tipos no seu percurso de vida, mas você continuará seguindo, apesar do medo, se tiver certeza do que quer e aonde quer chegar.
Tenho me perguntado nos últimos dias: aonde quero chegar? Para onde estou seguindo? Serei eu membro de uma caravana daquelas que ruma em direção a um Eldorado com a certeza de que vai encontrar um lugar melhor para viver? Ou será que sou integrante de uma daquelas caravanas mambembes, que rodam por aí sem eira nem beira?
Esse papo de caravana me lembra uma observação feita há dezenas de anos por uma amiga quando ainda nos preocupávamos com o enigma do orgasmo. Como saber se chegamos ao ápice? Qual seria a sensação? Ela me disse: "Não se preocupe tanto com o destino final da viagem. Curta o percurso".
Filha de um mercador que subia e descia o rio Paraguai com suas mercadorias, eu não poderia deixar de curtir viajar. Gosto de chegar, gosto de voltar e, muitas vezes, curto muito a viagem em si. Gosto de estar em movimento.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Música na veia

Nada como uma boa caminhada para botar a cabeça no lugar. Ainda mais agora que estou metida com meu iPod.
Ontem foi engraçado. Um cara quis puxar conversa comigo durante a caminhada. Respondi para não ser antipática, mas não dei muita bola. Ficamos um tempão andando meio lado a lado. De vez em quando eu conseguia ultrapassá-lo, mas quando eu achava que tinha me livrado dele, o danado me ultrapassava. Teve uma hora que tocou uma música que me empolgou e comecei a cantar. Ele achou que eu estava puxando conversa. Expliquei que estava apenas cantando.
Na viagem de ônibus para Ribeirão Preto na semana passada tive que me segurar também. Em duas ocasiões, minha filha - que viajava no banco da frente (tivemos o privilégio de poder viajar cada uma em duas poltronas) me deu um toque de que eu estava cantando muito alto.
E que tipo de música ouço no meu iPod? Como ainda estou apanhando para baixar as músicas que quero e "sincronizá-las", minha seleção ainda é modesta, mas tem muito Chico Buarque, Caetano Veloso, Mílton Nascimento, alguma coisa de Beatles, Cartola, Lulu Santos, e uma gravação incroyable de "Ne me quitte pas" na voz de Maria Gadú. Ah, tem também Jorge Aragão, Boca Livre e uma interpretação linda de "Desenredo" com Edu Lobo e Dori Caymmi. Quero incluir alguns blues, rock dos anos 70/80, alguns standards de jazz, um pouco de música clássica - uma seleção eclética, bem ao meu gosto.
Na verdade, minha intenção era falar sobre solidão (aliás, preciso incluir Paulinho da Viola na minha seleção com sua incrível "Dança da solidão"). Acho que toda essa história em relação à mudança da minha filha caçula me deixou muito triste e senti que tinha ficar com essa minha tristeza neste feriado.
Ontem visitei uma prima minha que é muito solitária e tem uma história muito triste. Ela me disse num determinado momento da conversa: "Eu tenho que sonhar", como dizendo "tenho que sonhar para seguir em frente", já que a vida real não está sendo muito generosa comigo.
Fiquei triste, mas hoje caminhando no parque em companhia de meu iPod, eu me inspirei nos versos sábios de "Travessia" (Mílton Nascimento e Fernando Brant):
Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mortes

Eu estava triste porque minha filha caçula acabou de viajar (calma, ela ainda não se mudou para Jaboticabal) e o meu programa de segunda-feira de carnaval tinha acabado de furar. Assisti ao telejornal local (TVCA) e acabei ficando mais triste ainda com a notícia da morte de uma jovem de 21 anos, assassinada pelo ex-marido em Cuiabá. Uma professora de balé! A família dela disse que a moça tinha registrado várias queixas na delegacia contra o ex-marido, que a ameaçava de morte. No entanto, o cara morava ao lado dela e a moça estava sozinha no quarto quando ele a matou com uma cadeirada!
Fiquei tão chocada com a brutalidade e a tristeza da história, e fiquei meio passada com a atitude da família: todos muitos tristes, mas conformados de uma certa forma. A moça deixou um filho de dois anos.
Por falar em crimes, soube ontem, por acaso, ouvindo - e me metendo - na conversa de duas moças no supermercado, que o cara assassinado no lava a jato perto da minha casa era dono do estabelecimento. Parece que foi crime encomendado. Segundo a fonte, o cara vivia desfilando em carros importados ...
Enfim, não vou meter minha colher no submundo do crime cuiabano (nem tão sub, já que os assassinatos acontecem à luz do dia), mas é triste constatar que nossa capital ainda está longe do que se chama de uma cidade dentro da lei, ou seja, onde há um respeito mínimo às leis básicas de uma sociedade em paz. Porém, não posso deixar de registrar aqui minha estupefação ao assistir ontem o DVD "Jean Charles", filme brasileiro que conta a história do mineiro abatido a tiros em Londres, em 2005, pela "eficiente" polícia britânica. Tudo bem que havia um surto de terror, mas nada justifica a forma como ele foi assassinado covardemente num trem do metrô. O mais lamentável, como ressalta o diretor Henrique Goldman numa entrevista (ou foi o produtor executivo Stephen Frears, não me lembro bem), foi o fato de o chefe da polícia não ter reconhecido de imediato o erro, tentando convencer a sociedade de que o "suspeito" (Jean Charles foi confundido com um suposto terrorista muçulmano) teria reagido quando abordado.
Onde está a civilização?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Elocubrações carnavalescas

Desde que acordei estou me preparando para ir ao supermercado. A geladeira está vazia depois de quase uma semana fora de casa ...
Dei uma olhada nos jornais locais, uma bisbilhotada na net e descobri fotos desconcertantes da socialista norte-americana Paris Hilton, bêbada e de quatro no chão de alguma festa no Rio de Janeiro.
Adoro beber, mas decididamente acho gente bêbada o fim da picada. Tenho dito isso para minhas filhas: o limite entre estar alegre e engraçado e estar chato, incômodo e ridículo, é muito tênue. Podemos passar de uma situação à outra quase sem perceber.
Ontem estava conversando com o meu professor de yoga sobre o carnaval e ele me disse que não gosta de ambientes onde há gente bebendo, fumando e com "energia baixa". Eu concordo com ele em tese: também não gosto de baixaria, nem de fumaça de cigarro na minha cara, mas adoro dançar e é muito difícil encontrar um ambiente com música, dança que não tenha bebida alcoólica, cigarro, etc.
Ontem, por exemplo, fui ao Chorinho. Revi amigos, dancei, transpirei como se estivesse numa sauna, cansei e vim embora.
Quando eu era pequena, adorava carnaval. Gostava de pular (no clube Fluminense, no bairro das Laranjeiras) e passear no Centro do Rio de Janeiro com meu cunhado César, vendo o povo fantasiado. Naquela época, não estava na moda o pessoal da Zona Sul ir para o carnaval de rua, que passou por um período de baixa antes de renascer há alguns anos.
Por alguma razão que não sei explicar, houve um carnaval em que eu, ainda menina (mas já meio complicada), questionei o sentido de as pessoas ficarem pulando e dando voltas num salão. Naquele ano, o carnaval não teve o mesmo gosto para mim. Depois, inexplicavelmente, deixei essas elocubrações de lado e voltei a curtir pular, dançar e suar num salão e me lembro até hoje com saudades da minha alegria quando tocava um samba do Osvaldo Nunes, em que os foliões eram convidados a dar o pulo maior que pudesse no refrão.
"Nesse carnaval não quero mais saber
De brincar sem você
Vamos ficar juntinhos
Água na boca pra quem ficar sozinho
As nossas brigas
Não podem continuar
Porque nosso amor não pode se acabar
Lá rá rá rá rá hei!
Lá rá rá rá rá ..."
Na minha vida sempre alternei esses dois pensamentos: a busca e o prazer da alegria, o desejo de pular e me sentir feliz sem grandes motivos, e o questionamento, a culpa de me sentir feliz quando o mundo está tão cheio de problemas, pessoas sofrendo, etc, etc.
É engraçado que estou longe de ser menina e ainda carrego esse conflito dento de mim.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Carnaval


Já estive mais animada na véspera de outros carnavais. Talvez seja o cansaço da viagem a Jaboticabal (2.400 km de ônibus em quatro dias!) ou mesmo o rebuliço emocional provocado pela iminente mudança de cidade de minha filha caçula. Pode ser também a dureza pós-férias, acrescida da preocupação com a outra filha que foi passar o carnaval em Cáceres - cidade situada a 210 km de Cuiabá, inundada pelas chuvas nas últimas 48 horas (foto do site da Secom-MT). Falei com ela há pouco e está tudo bem, mesmo que a primeira noite de carnaval oficial tenha sido cancelada.
Também não posso deixar de registar um fato do qual tomei conhecimento nos dias que passei em Jaboticabal e que me entristeceu: o assassinato de Alcides do Nascimento Lins, filho da ex-catadora de papel em Recife, que há poucos anos tinha sido destaque nacional por causa de sua aprovação no vestibular. A imagem da mãe dizendo "minha vida acabou", em contraste com a alegria de mãe e filho na reportagem veiculada na época do resultado do vestibular, foi de cortar o coração. No dia pensei: "eu aqui feliz porque minha filha vai iniciar sua vida universitária e essa mãe que batalhou tanto na vida está chorando a perda do filho e o fim do sonho de ver seu filho formado".
Até onde sei parece que os caras que mataram o rapaz fizeram isso porque ele não quis dar informações sobre o vizinho que procuravam. O tal do motivo fútil. Mais um nessa terra onde a vida humana vale cada vez menos
Hoje, quando cheguei em casa, soube que mataram um cara num lava a jato a uma quadra do meu prédio. Minha empregada ouviu os tiros. Li também no jornal que mataram um rapaz na madrugada de ontem na saída de uma boate não muito longe da minha casa.
A vida continua ...
"E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança"
(trecho da Marcha da quarta-feira de cinzas, de Carlos Lyra e Vinícius de Morais)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Viola instrumental


Envolvida com a minha viagem-relâmpago para o interior de São Paulo, acabei não fazendo o registro do show de viola instrumental ao qual assisti na noite de sexta-feira passada.
O show aconteceu no Cine Teatro Cuiabá e fez parte do Circuito Syngenta de Viola Instrumental. Foi uma delícia, apesar do calor que castigava público e músicos num teatro onde quase virei picolé em outras ocasiões.
O mestre de cerimônia foi o violeiro paulista Levi Ramiro, muito falante e simpático, que "apresentou" quatro músicos da terra: os violeiros João Ormond e Daniel de Paula (à direita, na foto tirada do site www.circuitosyngentadeviola.com.br), que tocaram acompanhados de dois violonistas, cujos nomes agora me fugiram (mil perdões). Os cinco tocaram algumas músicas em conjunto, mas a maioria dos números foi apresentada em dupla de violas.
Houve vários momentos inebriantes e apresentação de composições dos próprios instrumentistas, mas o ponto alto da noite foi a interpretação de um clássico - "Mercedita" - com destaque para o solo de Daniel na viola-de-cocho. A plateia delirou!
Fiquei muito feliz com o show especialmente por dois motivos: fui acompanhada de minha filha Marina, que não é muito chegada à música instrumental, porém gostou da apresentação, embora tenha dito que preferia que "fosse cantado".
O segundo motivo foi ver um músico local, Daniel, que conheço há alguns anos, tendo seu talento reconhecido. Como professor da rede pública, ele fazia um belo trabalho musical com seus alunos. Constatei isso em 2003 quando era assessora de comunicação da Secretaria de Estado de Educação. Nem sei se Daniel continua dando aulas. Depois disso soube que ele tinha sido premiado num concurso nacional de viola instrumental promovida pela Syngenta, empresa que agora promove o Circuito levando violeiros premiados a várias capitais do país.
Como disse Ramiro numa frase inspirada, a música instrumental é aquela que não precisa de letras. Cada um que ouve cria a imagem a seu jeito. É isso aí: a música instrumental, quando feita por músicos talentosos, leva o ouvinte longe e toca o coração da gente.

PS. Como meu blog é lido por pessoas que não são de Mato Grosso - ou não moram aqui - achei por bem explicar o que é viola-de-cocho. É um instrumento aparentemente tosco, muito usado nas apresentações de dois ritmos populares em Mato Grosso: o cururu e o siriri. Nos últimos anos outros músicos locais elevaram esse tipo de viola a uma condição mais nobre, inclusive, hoje ela tem lugar de honra na Orquestra do Estado de Mato Grosso.
Ela se chama "de cocho" porque é feita como o cocho onde os animais se alimentam nas fazendas: é "confeccionada num tronco de madeira inteiriço, esculpido no formato de uma viola e escavado na parte que corresponde à caixa de ressonância" (fonte Wikipedia).
Não me perguntem como os músicos conseguem tirar melodias e harmonias tão bonitas de lá!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Ode a Jaboticabal

Exageros à parte, posso dizer que adorei Jaboticabal. A cidade é tão simpática! Tem horas que me lembra um pouco Corumbá (MS), minha cidade natal, mas também tem um quê de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Talvez se pareça com várias cidades do interior do Brasil, mas tem o seu encanto particular, embora o visitante perceba aqui e ali alguns sinais de descuido: ruas esburacadas, lixo na rua, terrenos baldios tomados pelo mato.
O que tem de tão bom? Achei as pessoas muito simpáticas e profissionais: nos bares, restaurantes, hotéis. Todos os motoristas que conheci - de táxi e ônibus - foram gentis e prestativos. As ruas, embora com muitas ladeiras, são agradáveis e há uma sensação de segurança. Ah, a cidade é bastante quente, mas isso é apenas um detalhe para quem mora em Cuiabá.
Saí para caminhar no fim da tarde - depois já ter andado bastante durante o dia - e foi uma delícia. Fui andando meio às cegas e cheguei até uma avenida onde havia um córrego meio seco e assoreado, onde havia muitas pessoas em trajes de caminhada. Cheguei à Prefeitura, onde tinha um lago, e de lá retornei para o hotel. No caminho passei na catedral - localizada numa praça bonita que me lembrou o jardim de Corumbá - dedicada à Nossa Senhora do Carmo. Simplesmente linda!
Enfim, acertamos uma república para minha filha depois de conhecer e prosear com o pessoal de outras três repúblicas. Foi difícil decidir, mas optamos pela primeira que conhecemos por vários motivos, alguns racionais e outros nem tanto.
Torço para que os bons momentos vividos nesse um dia e meio em Jaboticabal sejam um presságio de uma temporada maravilhosa para a minha Marina - uma menina doce e determinada que decidiu surpreendentemente fazer Agronomia no campus da Unesp em Jaboticabal, a cerca de 1.200 km de casa.

Novas experiências

Ser mãe é padecer no paraíso, já diziam. Continuo em Jaboticabal. O dia está lindo e, enquanto espero minha filha acordar - ela dormiu mal porque está podre de gripe - resolvi checar meus emails (inclusive de trabalho) no hotel e o dono, que não pára de falar, alertou-me quanto ao risco de colocar minha filha numa república de estudantes.
Por que? - perguntei, me lembrando dos rostinhos simpáticos das meninas que conheci ontem.
Ele respondeu que geralmente as veteranas botam a "bixete" para trabalhar, lavar louça e disse também que elas fazem muitas festas, o que pode prejudicar minha filha, já que ela será a única novata e terá provas em dias diferentes.
Os argumentos são plausíveis e devem ser levados em conta. Por outro lado, tenho que ver também um aspecto comercial: o moço foi ágil em indicar a imobiliária de um amigo, onde poderíamos checar uma quitinete para alugar. Na sua opinião, o melhor a fazer é esperar o início das aulas e alugar um imóvel com amigas do mesmo ano. Até isso acontecer minha filha poderia ficar hospedada, naturalmente, no seu hotel.
Acabei de me lembrar de uma coisa que todos os estudantes disseram: o povo da cidade não gosta muito do povo das repúblicas, e dos alunos da Unesp, em geral. Há uma divisão clara, me disseram os estudantes, entre a comunidade de Jaboticabal e a comunidade da Unesp.
Acho que temos que redobrar os cuidados na escolha da república, se for essa a nossa opção. E tem mais: minha filha não vai ficar presa, se ela não gostar de morar em república pode buscar outras opções junto com as futuras colegas de curso. O importante é ela ter em mente todos os caminhos e escolhas possíveis.
Daqui a pouco vamos à luta novamente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Novas emoções

Hoje vivi uma emoção nova: a de ser mãe de "bixete", como são chamados as calouras aqui na Unesp, campus Jaboticabal.
Apesar do cansaço da viagem de 24 horas de ônibus, mais uma meia hora de Ribeirão Preto para Jaboticabal, ficamos - minha filha e eu - super felizes com a recepção e a organização na Unesp. Ela foi procurada por alunas veteranas que precisam de alguém novo na república e amanhã vamos tomar uma decisão com base no que estamos conhecendo.
Apesar de todo aperto que dá a proximidade da separação, fiquei muito feliz e morrendo de inveja da minha filha. Ah, como eu queria ter 17, 18 anos de novo e poder estar iniciando uma vida universitária num lugar como este...
Depois de amanhã, pé na estrada de novo.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Rumo a Jaboticabal

Nunca tinha pensando muito em Jaboticabal. Há uns dois, três meses, quando minha filha mais nova anunciou que ia fazer vestibular para o curso de Agronomia na Unesp, Jaboticabal era uma cidade distante - apenas um lugar no interior de São Paulo com nome de fruta. Porém com a notícia de que ela tinha sido aprovada, Jaboticabal tornou-se bem mais real e tangível.
Em poucos dias tivemos que tomar várias decisões importantes: ir estudar fora de Cuiabá ou não? Optar por Jaboticabal ou Viçosa (onde ela também foi aprovada)? Viajar para fazer a matrícula ou mandar a procuração para um amigo fazê-la? Acabamos na nossa ansiedade por tomar a melhor decisão fazendo um pouco de tudo. Mandamos a procuração, mas aí nos denis conta da necessidade de ir ao local para procurar moradia e tomar outras providências necessárias à mudança.
Confesso que estou morrendo de medo: de me afastar de minha filha e incentivá-la a tomar uma decisão que certamente terá consequências para o resto de sua vida. A gente ainda não se separou, mas como dói já!
Nesses últimos dias acompanhei a angústia de alguns jovens que prestaram vestibular este ano. O novo sistema do MEC - Enem, Sisu, etc - pode ser inovador, mas tem sido muito cruel com quem está servindo de cobaia. O fato de a UFMT ter sido uma das únicas universidades federais a ter usado 100% da nota do Enem como critério de aprovacão colocou a turma daqui numa situação muito injusta em relação a estudantes de outros estados, já que muita gente de fora teve a oportunidade de tentar uma vaga em Mato Grosso sem sair de seu estado, enquanto os estudantes daqui tiveram que viajar para prestar os concursos vestibulares em outras cidades. Teremos muitos jovens de fora estudando em MT longe de suas famílias e muitos de MT estudando em outros estados longe de suas famílias. Para o bem e para o mal.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Decepção

Hoje eu queria escrever sobre muitas coisas, mas a evolução dos acontecimentos ao longo do dia mexeu tanto com a minha cabeça que já não sei mais sobre o que quero escrever. Vou tentar voltar à primeira inspiração do dia.
Li no jornal Diário de Cuiabá que o prefeito Wilson Santos (PSDB) já admite nos bastidores que vai deixar a Prefeitura em abril para concorrer ao governo de Mato Grosso.
Por incrível que pareça, fiquei chocada (ainda consigo ficar chocada com a atitude dos políticos profissionais). Na campanha para a reeleição esse foi um dos pontos mais visados pelos adversários de Santos e ele sempre repetiu que não largaria a Prefeitura.
Nesta altura do campeonato, para mim tanto faz se vai largar ou não porque está sendo tão ruim (e ausente) como administrador que qualquer um que vier vai dar na mesma. Eu me preocupo é com o desejo de Wilson Santos, em que já depositei alguma confiança, de ser governador de Mato Grosso.
Por enquanto, acho todas as opções de candidato péssimas, mas com certeza eu não votarei mais em Wilson Santos. Se ele não dá conta de administrar uma cidade como Cuiabá (que está suja, esburacada, assediada pela dengue e a violência), o que dirá de um estado das dimensões de Mato Grosso?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Música instrumental

Com o calor fritando meus miolos - tudo bem, à tarde morri de frio no ar condicionado da Famato - não consigo raciocinar muito bem. Por isso vou me limitar hoje a registrar minha expectativa diante de dois shows legais, de música instrumental, que acontecerão amanhà e depois em Cuiabá. Ambos de graça!
Amanhã, no Cine Teatro Cuiabá, onde não vou faz tempo (acho a localização complicada, já que fica no Centro, é um lugar ruim de estacionar e meio assustador), vai rolar o Circuito Syngenta de Viola Instrumental, com três convidados. Como adoro viola, vou enfrentar as adversidades e prestigiar os músicos. Dois sáo daqui mesmo e meus velhos conhecidos - Daniel de Paula e João Ormond - e o terceiro, Levi Ramiro, é do interior de São Paulo. O show promete.
No sábado, meu destino é o Sesc Arsenal, cujo jardim será palco de uma apresentação do músico carioca Pedro Vasconcelos, que está em Cuiabá para oficinas de cavaquinho e tocará ao lado de outros músicos, como o baixista Ebinho Cardoso. Com esse calor que está fazendo por aqui, a noite promete. Os dois shows serão às 20h.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Engarrafamento mental

Com a possível mudança de minha filha caçula para outra cidade, minha vida está meio transtornada nos últimos dias. Temos que tomar decisões, providências burocráticas e, ao mesmo tempo, preciso tocar as coisas no trabalho, (re)organizar a casa depois das férias Às vezes acho que não vou dar conta; outras, que é muito barulho por nada.
Hoje, de manhã, um colega de trabalho comentou: "E assim caminha a humanidade", ao final de uma conversa rápida sobre vários assuntos. Perguntei: "Para onde?" "Para o fim", respondeu. Conversando há pouco com um colaborador da revista, falávamos sobre quão pouco as pessoas lêem, principalmente no meio rural. Para quem escrevo, afinal, na revista "Produtor Rural"? Mas esse é meu ganha-pão, é com esse dinheiro ganho honestamente que pago mal e porcamente minhas contas e vou levando a vida. Falo tanto de sustentabilidade, mas acho que não sou autossustentável.
Enfim, há momentos em que não estou satisfeita com a vida que estou levando e, (in) felizmente, sou daquele grupo de pessoas que questiona e, ao mesmo tempo, como já disse inúmeras vezes aqui, ainda não encontrei um sentido para vida, ou pelo menos, para a minha vida. É dar continuidade à espécie humana, acreditando que meus descendentes serão melhores que eu? O que realmente eu fiz - ou estou fazendo - para melhorar o mundo à minha volta? Essa é a questão central.
Li outro dia um artigo enviado por uma pessoa de quem gosto muito intitulado "Sobre tempo e trabalho", de autoria de Daniel Munduruku (escritor, filósofo, educador e blogueiro - danielmundukuru.blogspot.com), falando sobre a sabedoria do indígena em viver o presente. Adorei porque me lembrou uma forma de pensar que influenciou muito a minha adolescência - aquela busca de viver apenas o "aqui e agora", da filosofia oriental. Só que eu venho me cobrando muito pela minha dificuldade de pensar o futuro, de me planejar para o futuro e me sinto mal quando me pego feliz só porque estou ouvindo uma música de que gosto.
Como disse no início desse post, estou confusa - e consequentemente prolixa. Como vejo este espaço quase como um espelho (ou seria um divã?), estou apenas expressando meus pensamentos e inquietações num fim da tarde de um dia corrido e confuso.
Agradeço a atenção de quem chegou ao final e prometo posts melhores (pelo menos, mais assertivos).

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ícone

Um amigo muito presente numa época do meu passado me disse hoje, de manhã, que sou um "ícone" para ele. Desde cedo isso não me sai da cabeça.
Quando trabalhava na divulgação do Festival Internacional de Pesca (FIP) em Cáceres, costumava me referir ao Etrúria, um vapor de passageiros que navegava pelas águas do rio Pantanal no início do século 20, como um "ícone" do passado.
Ícone é uma palavra forte e me remete a outro substantivo forte: iconoclasta, "que ou aquele que destrói imagens religiosas ou se opõe à sua adoração", segundo o Houaiss. Ou ainda "que ou aquele que ataca crenças estabelecidas ou instituições veneradas ou que é contra qualquer tradição".
Nunca me imaginei como um ícone, que, no sentido figurativo (sempre de acordo com o dicionário Houaiss), significa "pessoa ou coisa emblemática". Acho que foi nesse sentido que meu amigo me atribuiu a condição de ícone. Mas, do que eu seria "emblemática"?
Como fiquei meio nervosa diante de seu "elogio" (sempre fico diante de palavras elogiosas), não tive coragem de lhe perguntar. Preciso fazer isso. Em me senti honrada, mas ao mesmo tempo fiquei meio pensativa, nesse meu eterno processo de autoavaliação e autocrítica.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Lapa

Recebo diariamente a Agenda do Samba & Choro com sugestões de shows em todo país. Agora, por exemplo, acabei de saber sobre a agenda de fevereiro do Carioca da Gema, bar da Lapa, no Rio de Janeiro, que se destaca entre os inúmeros estabelecimentos que integram a paisagem revigorada do bairro tradicional da boêmia carioca.
Adoro a Lapa e me sinto quase à vontade ali embora não more mais no Rio há 22 anos. Foi na Lapa (na redação do jornal "Tribuna da Imprensa" na rua do Lavradio, nas imediações do hoje badalado Rio Scenarium), que obtive meu primeiro estágio como jornalista. Era na Lapa, no Bar Luiz ou no restaurante Capela (hoje rebatizado de Nova Capela, mas sempre maravilhoso), que nós, jornalistas descolados, nos reuníamos para tomar um chope gostoso ou comer alguma coisa no final do expediente. Foi na Lapa, nas gafieiras Elite e Estudantina, que dei meus primeiros rodopios de dança de salão.
Mas quem gosta de passado é museu e eu curto a Lapa atual com suas casas de samba, onde jovens e cinquentões se misturam, cariocas e turistas, ao som da melhor música brasileira.
Pois na minha última temporada no Rio consegui ir duas vezes à Lapa e desta vez, por incrível que pareça, fui pela primeira vez ao Carioca da Gema. Assisti numa noite ao show de uma cantora nova chamada Aline Calixto (ótima, por sinal). Duas noites depois consegui assistir numa noite chuvosa (dava para ver as pessoas andando pela rua Mem de Sá com água nas canelas) a uma apresentação maravilhosa da cantora Teresa Cristina e o grupo Semente.
Uma despedida inesquecível do meu Rio de Janeiro.

PS. Acabei de descobrir - por meio de uma consulta ao Dicionário Houaiss - que é "mais correto", porém "menos usado no Brasil", a grafia da palavra "boêmia". Está feito o registro.